"Eu quero é que esse canto torto, feito faca, corte a carne de vocês..."
A imagem no espelho não é a mesma de seis meses. Antes, os olhos estavam fechados. Cargas pesadas para as sensíveis pálpebras. Não via, não via nada. Hoje, luz que incide sobre o cristal de Luiza faz cegar. Dois pontos continuam os mesmos no meio de tantas mutações: o motivo por trás do que faz cegar e o ato de cegar-se, puro e mecânico. Reconhecimentos, sim. Seria o caminho se o canto não cortasse a carne e sangrasse até a última gota. É o que eu quero: esse cego desespero modista a cantar "tenho vinte e cinco anos de sonhos, de sangue e de América do Sul", talhando sobre a pele mais um belo ciclo a se finalizar. Se sou raio, cega-me. Se sou escuridão, cega-me. Posso ser tudo e não ser, ou até ser o que não posso ser, assim, traçada nessas linhas. Ah, a vida inventada é muito melhor!
Um comentário:
belo texto, como sempre...
=)
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