Um ano. A data veio e ela a matou. Matou o beijo escondido, final e começo de namoro em seqüência, dias de matar aula, bilhetes de cinema do Diammond guardados na carteira, bilhetes-poemas no caderno. Ela matou os instrumentos que empoeiravam na sala e no quarto. Poeira vinda da falsa liberdade da porta sempre escancarada do paraíso deles. Música que unia opostos. Medo de mãe, dos outros. Muitas farras, farpas. Leveza e rudeza que se completavam naturalmente. Vontade tanta, unir-se. Festa para anunciar a loucura em um ano. Um ano. Um ano depois do depois, matava-os em remédios, crises. Em carros, velocidade. Em pontes, destruição. Ameaças telefônicas. Rosto desfigurado matava levezas já perdidas. Ela chorava caída no chão. Ele de pé com a mão, ainda trêmula, estendida. Já havia matado o respeito. Consultas, decisões sem consulta. Matou-se por um, mais um, mais um anos de sua mocidade. Arrastou-se. Esqueceu de equilibrar entre pólos. Dois. Um de pé. Outro caído. Alegria de arrancar anel do dedo e jogar com força no chão. Anéis, taças, pontes, corpos, chão. “Eu me atiro em você, vida!”. “Eu te tiro de mim, morte!”. Tristeza de depois. Depois de dois pólos, três tempos: um ano. A data veio e ela esqueceu. Agora, ela bebe. Ouve canteiros. Levanta a taça, comemora e se torna assassina.
- Eu te mato, saudade!
- Eu te mato, saudade!
3 comentários:
Morreu, assim, então!
Amei o texto!
Abraços
Saudade morta? Ou vontade enterrada?
Muito bom...
legenda para uma foto do seu álbum orkutiano:
"Eu sempre estendi as mãos
para as borboletas...
Abria os braços
para o passado saudoso...
para o futuro sonhado...
mas nunca tocaram em mim.
Hoje, fiquei imóvel
e uma pousou no meu pé. "
Fábio Rocha
Adorei o texto de hoje, limpo, bonito e profundo.
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