quarta-feira, 19 de março de 2008

das datas. de um parto vazio. de gente vazia.

"Deus, proteja o filho teu.
Não deixa o mal ganhar.
Por onde se escondeu
enquanto o céu caiu?
e a chave não abriu
e a estrada se acabou
e a ponte não passou
pra lá desse lugar."




Deus! Se te questiono é porque te quero bem. Diga-me, por onde você vais, agora? Escondendo por trás de armaduras, expondo-se pelas rugas e pelos cabelos grossos e brancos. Cabeça tomada por uma brancura... de idéias, ao menos idéias divergentes às minhas. Se sentes vontade de fuga, foges sem me deixar questionar. Criou-me (ou criei-me?)... no meio dessa brincadeira, ensinou a mim que esse cuidado era uma premissa, sem saber de em suas ‘aventurâncias’ futuras, este conceito não caberia. Não cabe também eu acreditar nessas ‘aventurânicas’, cada vez mais expostas pela armadura de rugas – mais uma divergência. Questiono: foges de quê? Estás sob seus olhos o que há de errado, se existir realmente algo de errado do lado de fora, e a decisão é sua, não posso questionar isto. Dizes tanto e de forma tão rasa que quando nunca me questiona é porque me quer bem, mas são palavras... rasas. Deixa-me livre, eufemismo para dizer que me quer desprendida de você. Não sabes, mas hora sim, hora também, necessito de interrogações ou de uma armadura verdadeira de rugas; que possa permitir que eu crie rotas de fugas alternativas do que eu, certamente, diria não ser meu lugar. Lugar que cada dia mais descaracteriza um lar, porque há fuga minha e sua. Eu te quero como não és. Queres de mim algo que não posso ser, por querer-te como referencial. Vejo-me em ti e nossos rostos fecham devagar, nossas bocas emudecem sem perceber. Perdemo-nos... E não adiantará o amanhã e o “esforço para lembrar (a vontade de esquecer)”. Sabe? Não me compras. Não necessito de escambos, sou livre dessas coisas, vale-me o que há por trás, que você sempre justifica – como se pudesse justificar a falta que me fazes, dizendo que somos de uma matéria só – mentira sua para mim, que eu finjo acreditar – mentira minha para você. Vais, porque necessita fugir de você. Mas, sua volta está velada, voltará aos mesmos ais, que são também meu ais, mesmo que sejamos de matérias diferentes... Como podemos ser tão estranha uma a outra se sou seu desdobramento? Acho... não, estou certa que seu ventre ao me parir estava oco.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ei adorei o texto... faz pensar... são os melhores... queria ter escrito tb!

ps.: "o esforço pra lembrar... a vontade de esquecer" tava ouvindo los hermanos qdo escreveu??? heheheh bju

xyz disse...

Como pode uma idéia de vazio tão completa?
Parabéns ... amei muito o texto!
Abraço, Elis.