sábado, 28 de abril de 2007

"Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus." (Clarice Lispector)


Sou assombrada pelos meus fantasmas que surgem do ontem. Na linha tênue dos meus sonhos, me transformo em duas. Uma liberta-se de paradigmas e vive do desejo maligno de ser feliz, a outra se tranca em escritas e páginas, vivendo de papel e tinta. Não preciso de definições constantes, sou apenas mais uma vinda do sagrado construto que se desfaz em segundos com a chegada de novos fantasmas, e assim me desmonto. Para me organizar preciso de me desorganizar intensamente. Transformo no bêbado e na equilibrista, no que não deveria se mostrar e no translúcido porta-retratos, mas aceito essa condição contraditória. E, sendo mais de uma, necessito de testar-me. Brinco com meus “eus” e com meus erros, na busca do que algum dia será o verdadeiro. Enquanto houver possibilidade vou continuar a brindar com o acaso, sem esperar mais do que isso. Irremediavelmente, serei sempre quem vai errar por tentar e fazê-lo até que se esgotem todas as possibilidades. E na nova cara de menina sozinha ficará apenas uma definição constante: minha liberdade.

sábado, 21 de abril de 2007



Após o êxtase, o cansaço. E após o cansaço? O conforto que não vêm. Demoras e linhas tortas: apenas mais um não, restando o que importa além das coisas casuais. Horas de brindes e tesouras. Sabe-se lá, se foram pensamentos, sempre. O sentir das eternas formações deliróides a corromper toda a resistência, o pen(s)ar final. Preciso parar de me entorpecer...







... e de cortar meus cabelos.

domingo, 15 de abril de 2007

Todos os meses deveriam ser Maio. E todos os dias deveriam ser como hoje. Logo hoje, um domingo de abril normal. Deveria ser um domingo de Maio. Exatamente dia 12. Tem data mais bonita? Tudo redondinho, doze e maio. Grande surpresa para quem tem fascínio por números pares e, claro, por Maio, também. Os domingos de enterros se foram e ainda estamos em Abril. Está ouvindo, Bira? Meus malditos domingos ganhando caras novas. E bastou-me um sorriso congelado, em cores! Todas juntas no abrir da lente e zas: Felicidade! E depois, ventos! Deixando a certeza de que se deve morrer como morrem as sempre-vivas...


Bira, porquinho, pato e cachorro: - Ela... ah!

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Confusão Urbana


As pessoas e os carros param. A cidade em caos pára. O dia pára e a banda passa... Enquanto eu, da janela, observo o nada reluzente. Olhar perdido, sem causa. Muito a ser feito e eu paro para ver passar, sorrindo de canto com os olhos. Sem muito esforço, permaneço na janela do trânsito caótico do que há dentro. Fomento o desejo de não mais ir contra a corrente. Rendição... Deus, cansei da esquerda por dois segundos. Resta-me Marina, seis horas da tarde.




quinta-feira, 5 de abril de 2007

"Eu quero é que esse canto torto, feito faca, corte a carne de vocês..."

A imagem no espelho não é a mesma de seis meses. Antes, os olhos estavam fechados. Cargas pesadas para as sensíveis pálpebras. Não via, não via nada. Hoje, luz que incide sobre o cristal de Luiza faz cegar. Dois pontos continuam os mesmos no meio de tantas mutações: o motivo por trás do que faz cegar e o ato de cegar-se, puro e mecânico. Reconhecimentos, sim. Seria o caminho se o canto não cortasse a carne e sangrasse até a última gota. É o que eu quero: esse cego desespero modista a cantar "tenho vinte e cinco anos de sonhos, de sangue e de América do Sul", talhando sobre a pele mais um belo ciclo a se finalizar. Se sou raio, cega-me. Se sou escuridão, cega-me. Posso ser tudo e não ser, ou até ser o que não posso ser, assim, traçada nessas linhas. Ah, a vida inventada é muito melhor!