quarta-feira, 3 de novembro de 2010


Fecha-se o coração como um livro, cheio de imagens, palavras adormecidas, perdidas em prateleiras, acumulando pó e mais pó... De tempos que nem são tão longos, nem tão curtos. Mas, acumulam-se. Com mãos próximas aos lábios oscila-se o sopro e o beijo. Neste instante, já não se sabe qual diferença da coisa perguntada e da menina calada, levando o empoeirado livro bem apertado no peito, na esperança que o pó desfaça o pobre desespero de um dia poder ser... tateado. Palavras adormecidas em escritos que habitaram, algum momento, seus lábios. Fica no ar essa sensação melancólica de um retorno a antiga persona, tal qual Polaroid antiga, lírica e metafórica... Aperta-lhe o peito, por estar tão vivo, dói mais. E, do sopro definitivo (é... não tão de-fi-ni-ti-vo, assim, valendo-se de quem é) fez um pálido beijo vão: o delicado movimento de ar da respiração - regular, metódico e tão cotidiano fez voejar a poeira de todas as palavras não ditas. Voou a imaginação... Talvez morra antes do horizonte. Memória, amor e o resto... de todas as outras coisas, que não tem mais explicação.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A noite e sua nudez
a voz da menina em admiração aberta,
alternância de sátira ou silêncio entristecido
hoje sou testemunha da noite e sua nudez,
hoje assisto ao testemunho da menina e seu amor calado
há entre nós a pouca distância de quem sabe para sempre
e o muito que nos separa
é o mudo do meu presente.
a menina, olhos de menina,
a aceitação e a dor desta menina,
grandes na nudez da noite,
no passageiro da criação,
nos sonhos sonhados, suspeitados,
a voz e o silêncio sobre o que sempre soubemos,
entre a paixão da menina
e o desejo da paixão que me anima,
ainda ausente como estou,
menina que perdi,
além do primeiro das coisa.

Ana Cristina Cezar – Da pasta rosa (06/11/70)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Mil seiscentos e noventa e nove. Olhando para esse número em negrito, invade a mim, um sopro, desses qualquer. Exatos mil seiscentos e noventa e nove. Nada a mais. Para quem tem essa mania besta de colecionar escritos, apagá-los é, sim, um crime inafiançável. Vale dizer que são exatos quatro mil cento e oitenta e cinco, desde 25 de abril de 2006 [um começo que escolhi por sua qualidade delicada de ser o mais fofinho (refresco-me as vistas e a memória - "Sua alteza mandou me chamar? o que queres?... Ah senhor, nd feito. Tenho tido muita dificuldade para terminar esta encomendA. Como é difícil afinar toques musicais na mesma frequência das maravilhas da vida! (...) Mas já tenho um protótipo para a alteza: experimente amar sem tocar, gostar sem dizer, criar sem pensar, mover sem mexer... é talvez por metáforas q posso aprender e relatar o que sua alteza, meu Deus, quer dizer a nós, seres vivos"]. Suspiro, em pensamento: me dei conta, antes mesmo de vê-lo. Atropelo o momento com algo matemático que berra em minha mente: Ontem ainda eram menos! Eram... mil seiscentos e oitenta e poucos. São, pelas minhas contas aproximadas uns... doze; só hoje! Mas, agora, às dez e onze, está lá... estático, um grande iceberg numérico e negritado. Todos aqueles que não tem lá grande importância. Todos menos um. Às dez e vinte e dois, batem a minha porta repulsas (de mim, do mundo e daquele médico filhadaputa que estragou meu dia). Pressinto, com um olhar desesperado, meu toque: F5. Céus! Lá estão todos, menos um...

Meia-noite, eu serei, efetivamente, a mulher mais infeliz do mundo.

domingo, 4 de julho de 2010

Aos queridos The Bull, My Carol, Max, Douglas, Alexander, Judith, Ira, KW e ao meu pequeno (grande) príncipe.

A espera de algo qualquer pode ser mais decepcionante do que o próprio algo qualquer, de fato. Retomando as raízes passadas e percebendo as rosas que, falantes, altivas e sem proteção, nem sempre, podiam oferecer tudo aquilo que pediam. Zás! Criou-se um precipício: a realidade que se tateia sem poder sonhar; noites sofismantes que, de madrugada, somem sem memória.

Precipício à frente, realidade crua; mesmo sem poder se movimentar, passos foram dados. A cada passo, um novo engano que foi facilmente adorado, dito e promovido como uma nova maneira de deixar-se inundar do “algo qualquer novo”. Claro, novo... Novo engano. O abismo, a queda, o fundo de cada um encarado face-a-face, pela milionésima vez, novamente, e nunca o mesmo, nunca o mesmo... Nunca.

(Mais) uma vez dentro, adoráveis e singulares monstros infantis: a carência, a agressividade, a amabilidade, a criatividade, a contemplação, a melancolia, a solicitude, o companheirismo e outros dois, mais facilmente presos a minha face tão transparente a estranhos: o egocentrismo e a impetuosidade. Facetas de um mundo inteiro, por dentro... a espera de algo que não se pode oferecer, mas que, ainda assim, se espera. No fundo não há mais espaços para os passos de fuga, parou-se os enganos não por vontade, mas por não serem mais possíveis – falta espaço para o movimento. Zás! Um último suspiro, a súbita falta cortante e o retorno a superfície: uma epifania.

Volta-se ao mundo e ao que ainda ficou aberto, em chagas, queimando em cada badalar dos dos sinos de catedrais que soam em melancólica e ínfima alegria, na esperança que ainda seja possível tentar balbuciar, por amor, o que não pode ser dito... A tristeza que une dois em um tal qual o amor envergonhado por esse estar inconstante no mundo, que, sem saber, sem sequer imaginar, proporciona esse subir desesperado rumo ao sol, enquanto as outras pessoas apenas passam por nós.

P.S.: Adoravelmente melancólica, eu estarei sempre no nosso reino.
P.S.II: Adivinha?

quinta-feira, 27 de maio de 2010

.





vamos começar...




colocando um ponto final.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

...

Apenas não somos mais impunes ao cotidiano, desaprendemos a brincar. Resiliente continuo queimando, envio cartas a Deus, peço socorro. Hoje mesmo, pensei que pudesse haver sol, calor, crianças sem problemas, nada de avaliações ou atendimentos, compromisso; sei lá, cara... eu só queria mesmo um dia bonito, mas coisas bonitas de verdade me são tão raras. À noite, cansada, jogada despretensiosamente na cama, me sinto abrir em duas e posso ver meu coração como um álbum de retratos velhos - tirados no momento que eu apertei os olhos para sorrir. Agarrando-me numa daquelas sensações antigas de alegria, fé ou mesmo esperança, vi aquela velha página, semi-viva, me dizendo de uma saudade e eu sentindo uma falta profunda de alguma coisa que não sabia muito o que era. Sei que doía, doía; sem remédio pra essa dor. Apanhei-me imersa a essas sedes insaciáveis, que me acaloram, abraçam-me e trazem-me memórias. Pensamentos que falam "e se... e se..."; quais as ligações que nos unem?
- Deus, Pai bom e justo, o que me repele também me liga? Seremos sempre memória e não matéria? Fortalece-me o espírito, hoje digo e creio: Que assim seja.
Talvez hoje adormecerei de súbito, pensando nas velhas folhas, belas fotos; de tais, o pó me restará nos dedos. Serei absorvida pelo amanhã. Sem escrúpulos, o cotidiano me prende; ainda assim, não menos cotidianamente, o vento sopra... leva-me (d)as repostas.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

quinta-feira, 25 de março de 2010

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Merecia delete, mas resolvi postar, antes que eu começe a falar de cosméticos.

Quis matar-lhe, impedir seu movimento em minha direção. A certo ponto, quis que se aproximasse, tomasse-me como um leve véu, molhado, redundante, mas repleto de si mesmo. Quando isso acontecesse, falaria o que não mais deveria – talvez como agora faço. Seriamos como o velho cheiro? Indago-me e me respondo: Não seriamos já sendo. Em dias triangulares, sentiríamos que existe ainda algo maior, que chamaríamos acaso ou qualquer coisa astrológica – mesmo acreditando sem acreditar em astros e nesse sentir. Mas, para manter o propósito dos outros tantos dias, atravessaria ruas inteiras, vetando-lhe de forma imperativa como nem eu mesma poderia imaginar. Não mandaria recados, sejam lá diretivos ou dúbios, muito menos, anonimamente, pois tenho uma face confusa, mutante, que na chuva se mantém cada vez mais quente, mas é uma face e está aberta a todos os tapas. Por fim, cá estou, escrevendo sobre a única palavra do português sem tradução. Tento explicar: Às vezes, penso já ter dito tudo e no segundo seguinte “despenso” esse pensado.
(À propósito, aos poucos leitores disso daqui: meu niver foi semana passada: NARS orgams serviria como um incentivo pro primeiro tutorial de makes. Candidatem-se!)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

28 - 30 de janeiro


Pessoas cismam de viver com coisas. Cismam de viver com outras pessoas, com música. Eu cismo de viver com sonhos. E, encimesmando-me, sonhei com o que os outros cismam: três dias e um lugar, uma pessoa e três músicas sem nexo. Esse foi o meu/nosso primeiro sonho “sonhado”. União de coisas diferentes, que de tão sonhadas, assim, quando vistas do alto da lembrança, nos dão a certeza, em absoluto, de um todo: sonho-viver.

Trilha sonora:






(Óbvio que eu iria queimar filme! Isso é sinceridade: cantamos essa música, sim, e ponto!)