sábado, 10 de setembro de 2011

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"Não se afobe não, que nada é pra já."






Tem mesmo que ser assim, Chico?

domingo, 1 de maio de 2011

Fico em pé. Olho para caos. Como alguém que olha a imagem no espelho. E o caos é silencioso, doce... sereno. Ele me olha. Seu olhar é como um abraço de pai. Um beijo no joelho esfolado. Um café forte e doce, sentada a beira do fogão de lenha. Um cigarro imaginário. As bromélias e as orquídeas do jardim. O caos me olha com carinho. Estou em pé. Observo meu rosto. Meu rosto é silencioso, doce... sereno. Eu me olho. Meu olhar atinge a parte de trás do espelho. O caos me estende as mãos. Anseio em tocá-las. Estendo as minhas. Toco imagem reflexa de minhas mãos. Vidro frio. Pareço intocável. Ele parece inatingível. Mãos trêmulas. O caos me olha. Me vê serena. Sorriso de canto de boca. O que mais vê? Eu vejo almas. Vejo detalhes. Vejo que o caos nunca sairá da imagem que observo atentamente de pé. O caos me analisa. Me esmiuça. Eu estou em pé. Mãos estendidas e vazias.... Na impossibilidade de vivê-lo. Finjo. Tocá-lo. Senti-lo. Buscá-lo pra cá. Pra perto. Será. As mãos distantes e as minhas vazias. Estou em pé. Observo-me. Vejo a arte que criei. Arte leve. Sei. Das muitas coisas que sei. A única coisa que faço com precisão. Querer o caos.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

One art


The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

-Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.


(E. Bishop)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Foi numa dessas manhãs de sol que ela, finalmente, chorou. Abriu a janela – montanha, céu azul e o vento. Respirou fundo o cheiro do resto da tempestade de ontem, dos pombos no telhado, do monóxido de carbono e das mangas maduras do quintal. O vento sacudiu seus cabelos ruivos, ela arrumou-os para poder sentir o silêncio dependurado na janela. Procurou pelos parênteses colocados em sua vida, tocou o vento e, então, percebeu que ele a olhava triste; ela não suportaria os olhares tristes porque eles lhe fazia lembrar das tantas vezes que havia também se entristecido na tentativa de apagar as lembranças espatifadas. Não, não que houvesse algo concreto. Nada que se valesse muito, nem foto, nem música, nem lugares. Mas, miudezas se acumulavam nos cantos e o que lhe pesava, por dentro, era o intangível. Novamente, respirou fundo a manhã de sol, o verão, a montanha, o céu azul e o vento com cheiro de mangas. Sem pensar em mais nada, sem sentir nenhuma amargura, rancor ou melancolia, ela tocou em uma vaga saudade e chorou: o amor inundou-a de lágrimas e escancarou sua fragilidade.