quarta-feira, 20 de maio de 2015

carta ao pedro, 2015



Hoje conheci Pedro. Depois de nos esbarrarmos algumas vezes. Hoje reconheci um lado adormecido, que ainda me habita, mesmo que quietinho: Pedro despertou em mim um olhar atencioso.

Seus olhos-folhas-secas, seu queixo fino, seus cabelos bem pretos. Um jeito firme de falar, mas doce. Extremamente gentil. Pedro riu da minha habilidade única de machucar o mesmo pé duas vezes na mesma semana. Riu por eu ter enviado uma foto do meu dedo preto, antes de qualquer outra. Disse que eu era mesmo diferente, afinal, além do episódio da foto do pé, eu o havia batizado como Pedro, sendo seu nome outro diverso. Gostou do vinho, da pizza adocicada, das minhas capas Romero Britto. Ficou encantado com minha mão macia, mesmo com tanta aspereza a minha volta.

Bom, meu Pedro me contou sua historia: De rapinha do tacho,  menino bobo, pidão de atenção, orientado para a família a sua ida a Cingapura, Paris e ao Bonga Bonga no meu saudoso Barreiro, com a mesma simpatia e leveza, brilho nos olhos e ajeitamento do cabelo que teimava em esconder as folhas secas que haviam ali naquele olhar.

E, meu Pedro me ofereceu um ouvido, boca de poucas e gentis palavras me levando a refletir sobre a vida, a minha, a dele... (voo longe... a nossa?!). Me estendeu abraços pra esquentar e me ofereceu sua cama, de solteiro. Ha tempos não dormia em um cama de solteiro! E... Ha tempos não voltava pra casa com essa sensação de encantamento pelo simples e belo. Pelo ouvir! Pelo olhar... Meu Pedro atento, com suas folhas secas atentas a meu incansável movimento de busca. Hoje, eu encontrei o Pedro, criatura criada por mim, reconhecida em nome e sobrenome, horas inteiras sinceras. 

Hoje, eu tive um pouco do que me faltava: Afeto. Hoje, eu chorei.