quarta-feira, 11 de março de 2009

al otro lado del rio...



Hiato. A distância entre escrever e sentir. Tenho pensado sobre isso. A escrita dói tanto quanto há silêncios torturantes no sentir – dolorido por si só, como palavra, como silêncio, como tortura, como dor pelo hiato da própria dor. Não escrever dói, pelo somente sentir também doer. Sou tudo aquilo que projeto no papel, digno de qualquer delete ou descarte para qualquer lixeira; descubro, abruptamente, que a vida-vivida é projeção do que digo; minhas ações são o que escrevo – vida-prolixa-imensamente-sonhada-com-olhos-bem-abertos-e-vermelhos-pela-insônia. O que faço torna-se digno dessa correlação insana de todas as relações patológicas, o que é naturalmente o normal – já digno de todos os conceitos sobre normalidade que tanto repudio. Singulares repetições, não redundâncias. Repito as palavras por vivê-las; mas vivo os sentidos singularmente, como todos os hiatos e abismos dentro da minha tríade sentir-viver-escrever. Encontrados os sentidos singulares e os hiatos abismais, pari-se, dolorosamente - como todo parto, o encontro da vida-vivida com a vida-prolixa. Doe-se tão gravemente pressupondo-se que esta dor seja o prazer absoluto, onde não há mais distinções entre silêncios e falas, pensamentos e ações, vida e palavras... como penso ser a dor da morte: imensa, pura e repleta de fusões de si consigo mesma. Parindo-me, paro-lhe – figura abismal e de silenciosa malícia e prazeres infinitos. Abro-lhe, vida-prolixa. Gero-lhe, vida-vivida. E me dói hiatos de felicidade. Tenho, em absoluto, pensando sobre isso...