quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Foi numa dessas manhãs de sol que ela, finalmente, chorou. Abriu a janela – montanha, céu azul e o vento. Respirou fundo o cheiro do resto da tempestade de ontem, dos pombos no telhado, do monóxido de carbono e das mangas maduras do quintal. O vento sacudiu seus cabelos ruivos, ela arrumou-os para poder sentir o silêncio dependurado na janela. Procurou pelos parênteses colocados em sua vida, tocou o vento e, então, percebeu que ele a olhava triste; ela não suportaria os olhares tristes porque eles lhe fazia lembrar das tantas vezes que havia também se entristecido na tentativa de apagar as lembranças espatifadas. Não, não que houvesse algo concreto. Nada que se valesse muito, nem foto, nem música, nem lugares. Mas, miudezas se acumulavam nos cantos e o que lhe pesava, por dentro, era o intangível. Novamente, respirou fundo a manhã de sol, o verão, a montanha, o céu azul e o vento com cheiro de mangas. Sem pensar em mais nada, sem sentir nenhuma amargura, rancor ou melancolia, ela tocou em uma vaga saudade e chorou: o amor inundou-a de lágrimas e escancarou sua fragilidade.