segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Eduardo e Mônica

"Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos
Quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz"



Sim, você vai entrar por esta porta. Jogar com meias palavras, me fazendo buscar mais. Depois de conseguir minha atenção, irá jogar o casaco molhado sobre a cama. Então, irá se sentar e com uma prolixidade invejável, apontará todos os meus defeitos. Um por um, vomitados na minha cara, insensivelmente e com toda a paciência que lhe falta em todos os outros momentos. Caso não me convença, apontará fatos. Fatos físicos e verbais. Questionará, ameaçando-me com as minhas próprias meias verdades. Eu poderia, quem sabe, concordar, mas não o faria. Pensaria logo em atirar-lhe o vaso de flores que habita acima da televisão. Pensaria em puxar-lhe o lençol, vendo-lhe escorregar até espatifar-se no chão. Pensaria também na infantilidade, na correria que eu me entrego só para poder ver-lhe com tranquilidade. Sentiria-me ridícula por suplicar por algo que não é e nunca será meu, por sermos tão diferentes e por achar que esta não faria diferença por ora. Poderia fechar-me em livros, passar noite em claro, vendo-lhe respirar tranqüilamente do outro lado da cama. Pensaria em roubar-lhe as idéias fracas, transformá-las em mais fracas ainda, inquietar-te com minhas fugas, fazendo-as claramente. Daria até dia e hora para que pudesse me encontrar vestindo o melhor sorriso que você me deu. Poderia sim, fazer isso e até mais, se ao som das primeiras meias verdades vomitadas eu não caísse em prantos e temesse tanto perder o ínfimo segundo de felicidade que você me trouxe nesses últimos tempos nebulosos. Perder essa permissimidade que corrói minhas antigas arestas, que me faz olhar com mais cuidado o novo. Pensaria em tudo isso, mas encostada na parede, feito bicho amedrontado, pediria resguardo de mim e me daria a você em cama molhada. Pois o que você quer é me tomar, assim, fraca. Pois me tome! Mas, saiba que eu sei que amanhã não estará mais aqui, que no depois não haverá mais sons agradáveis de madrugada, e nem eu, fraca. Saiba, por aqui, ou não, pois nunca verá mesmo que os olhos teimem em percorrer cada linha, que penso em n possibilidades, e nunca, nunca, nunca me verá "sendo" apenas. Sendo diferente do que sou, mesmo que assim o seja (fraca) por somente este instante.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Sofisma


E... quando olhava para cima, para seu caleidoscópio multicor, ela teve vontade de tê-lo pertinho. Fechou os olhos bem apertados e o desejou com muita força. Dizem que ela se fez caco. Caquinhos do lustre que caiu sobre o pratinho de ervilha se misturaram aos caquinhos dela, menina-pétalas-de-flor.

(- Tapa os olhos com o vestido, menina.)

Também dizem que quando pertinho do estrondo, a menina sorria e atirava, desesperadamente, as ervilhas do prato para que elas se salvassem. Contam-nos sobre o cheiro naquele momento: cheiro de cores. Todas as cores, juntas para pintar o quadro mais triste de já se viu. O quadro do dia que a menina que brincava com o pratinho de ervilha se foi...

(- O medo vai embora... Vai sim.)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Sentada para jantar, ela sonhava. Revirando os talheres, ela imaginava que cada folhinha fazia par com as bolotinhas de ervilha. E de trás do arroz saiam fiapinhos de soldados com suas metralhadoras de alegria... No banquete dela, não dava a mínima para os pratos que viriam, ah, e viriam muitos. O que ela queria mesmo era a sobremesa: docinhos coloridos. Sentada, ela sonhava com coisas simples mesmo frente aquele banquete festivo. Ela deixava-se inundar pelo cheiro de coisa boa de criança que vinha do pertinho. Ela sonhava e se enchia de alegria... e via, lá no teto, um arco-íris forjado pela luz que furava o lustre de cristal. Neste instante, ela descobriu, sem querer, seu caleidoscópio... e ele vinha com sabor novo, sabor de criança sem malícia, sabor de querer por gostar, sabor de bolotinhas de ervilhas velhas que adorariam fazer par com alfaces novinhas.

- Caleidoscópio sinestésico, misture-me. Absorva-me em suas cores. Prova-me seus amores.

domingo, 25 de novembro de 2007

Colocava-o na água do café, dobrava com ele a muda de lençol. Pegava a vassoura e apertava contra o chão... Queria varrer toda a sujeita para ver dançar a poeira, pedaços pequenos dele. Partia para molhar o jardim. Molhava cada folha, cada flor. Quando olhava para o céu via espectros luminosos que estavam ali para aquecê-la, vencendo toda a imensidão que se fechava pela folhas da copa da mangueira. Ela o sentia. Ele a tocava... Entrava para a casa, refazia-o em cada pitada de sal, no gás aberto e no fogo acesso. Alimento pronto, ela se aprontava. Passava no espelho batom, vermelho, a cor dele. Fazia o contorno dos lábios em forma de coração e saia. Durante o longo dia, dentre livros e aulas, ela se regava, se aquecia, se maquiava na certeza que voltaria acompanhada por ele. Chegada a hora do regresso a ela. Ela voltava para casa... Abria a porta com a chave dele, a chave certa. Caminhava a passos lentos até o quarto onde ele estaria com a muda de lençol. Nada. Corria até a cozinha para encontrá-lo na água do café. Nada. No jardin; folhas secas. Da cerca de mil flores, sumiu uma. Da copa os espectros já não passavam. Ela agarrava com força a vassoura, pés na terra. Varria! Varria! Varria! Não subia poeira... nada dançava. Ela varria então seus pés. Esfregava-os com força na terra, na vassoura, no mundo. Ela se varria... mas não levantava. Na busca por algo, se viu numa mesa. Em baixo, encolhida, abraçava as pernas, balançava o corpo para frente e para atrás e repetia, repeita, repetia para seu mundo:
- Amor de plástico. Amor de plástico. Amor de plástico. Ele só está atrasado... O amor só está atrasado... Ele só está atrasado... Ele só está atrasado... Amor de plástico atrasado.
"A lua deita seus

Raios sobre a rosa caída.
Beleza morta."

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Que de sorte eu não tenha nada. Que dessa moeda me saia a resposta. Cara, sim. Coroa, não. Quanto de realidade o homem suporta? Coroa! Falta-me coragem. Quanto de fantasia é necessário para suportar a realidade? Cara! Onde foi mesmo que deixei meu rosto? Uma moedinha, dez centavos de Real. No ar, para cima... Para baixo...

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Fechada na palma da minha mão...

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

"Para que te serve essa cruel boca de fome?
Para te morder e para soprar a fim
de que eu não te doa demais, meu amor,
já que tenho que te doer,
eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. (...)"


Venho comemorando meses de minha morte. Dia após dia, a mesma comemoração: um caminho escolhido, percorrido e findo sempre na mesma cerca. Nela, deixo pedaços de mim em comemoração. Aproveito os mínimos espaços dentre as farpas - a valsa da comemoração, enquanto sinto, uma a uma, rasgar o vestido que me deram; cortar os milímetros de pele nova que também me deram; ver o branco das flores no cabelo mudarem para vermelho. Esta é a melhor hora, quando espremia-me para caber na tortuosa recompensa do caminho. Por vezes, quis padecer ali. Por vezes, quis apressar-me e sair nua de roupa, de pele, de flores, de mim. E, em outras tantas, quis apenas ficar estática, sentindo cada farpa; ficar ali com a pele rasgada, o vestido molhado e com as flores dependuradas... Venho comemorando meses de meu (re)começo. Dia após dia, a mesma comemoração: sangrar para saber que eu estou viva.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Da volta.

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também
E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queria que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida...
(Gonzaguinha)


Ciclos. Morte-vida. Na volta do barco, o cansaço pesa muito mais...

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Do imutável

Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava. E amava...
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava.
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava.
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava.
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava.
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava.
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava.
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava.
Que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava.


E, dito que amava Rita que amava o dito que amava Rita que amava. E amava... E amava toda a quadrilha também.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

E a menina olhou para o casulo. Analisou os riscos de abri-lo agora... Pegou um graveto, cutucou de todos os lados expondo a lagarta metade transformada. Via o de dentro: aquilo meio bicho, meio borboleta. Tocou-o com as mãos. Ele se moveu, estava vivo. Pareceu florescer ao redor e aquilo, por um instante, pareceu poder voar. Mas algo ali parecia nada. Sete vezes, nada. E a menina olhou para aquilo nas suas mãos, um monte de desastrosos nadas. Olhou-o mais intensamente. Percebeu sua beleza e, de tão belo, temeu que outros o levasse para bem longe dela. Então, segurando-o entre os dedos tortos, levou-o até a boca e o engoliu. Agora, os nadas de dentro e de fora se juntaram e a SUA (só sua...) beleza estava salva.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Ao Senhor U., remanescente e saudoso soldado,


Venho primeiramente saudar-lhe pela audácia de escrever-me. Poucos sabem do que não sou. Outros menos sabem do que me tornei. Você encerra tais delimitações. Pretendia esmiuçar a situação, visto que desses lados do muro vê-se coisas diferentes do que as minhas. Resolvo, de súbito, que não. Deixarei-lhe com lamúrias de uma senhora. Quarenta e três anos - vulgos três, passados dentre armar-me e negar-me. Lamento, não somente por pactos quebrados, fixei-me no conhecer para alcançar além das camadas aéreas. Lancei-me ao espaço, não diferente de como faço hoje metaforicamente. Lancei-me. A causa era nobre, fortificar-nos; ó, Senhor , por vezes esqueci de fortalecer-me por mim. Fortalecia-me a luta, progresso da comunicação. Pressentia e comprovava o improvável perfeito, que seria provável com tal corrida contra - quem sabe? - o tempo. Tempo, tempo, tempo, tempo, tentei sim, coexistir pacificamente. Mas, ideologicamente segui a lutar e as crises inevitáveis também a coexistir. Confesso-lhe que pensei amenizar-me, vã ilusão. Voltei-me esquiva, dentre aspas, novamente ao provável – desta vez, suprimido o prefixo. E, não menos provável: armas aos inimigos. Articula-se obscuramente a troco de cessar-me. Destas, impulsionaram reformas cheirando a mofo e que de certo nasciam de labirintos com grandes prateleiras. Sim, meu saudoso soldado, não podias ver-me, assim como a mim mesmo tal era negado. Sob domínios dúbios tentei aproximar-me de mim diplomaticamente, princípio de meu fim. Perto do fim, puderam, então, escolher pela primeira vez. Meio do fim, puderam presenciar quedas do que faziam você ver coisas diferentes das minhas. Caíram peça por peça. Uma a uma, de cores, decoradas, arrancadas. Uma a uma. Não nego-lhe, abriu-se espaço para verem o caos. E o caos antes instalado seria arrancado -um a um, independente do tempo. E lhe afirmo, mesmo que em processo, hoje isto será improvável. Extremamente improvável que se desfaça de tudo. Sigo, desde então, com uma lucidez perigosa, como as de quem antevê renuncias próprias em detrinimento ao desconhecido. Novamente, arrancam-me de mim, do mundo, do caos. E mastigam-me politicamente, paradoxalmente independências – neste caso, deixaria em questionamento a propriedade do prefixo, use-o como bem entender. “(Pré-)fixos”. Use-os um a um, arrancado-os - ou não... - sem expor-me e, surpreendentemente, sem que haja necessidade real de questionar alguma validade ou veracidade de tal relato que lhe escrevo aqui, pois o que lhe escrevo veio apenas de mim. De toda docilidade noturna e sua não luminosidade; e estando presa deste asilo, não sinto-me louca apenas ao sol. Fique comigo através do que fui um dia, saudoso soldado remanescente. Hoje, passados 31 dias do presente mês e lamentavelmente véspera de completude do mês destes 43 anos passados, renuncio-me. Renuncio-lhe, sonho, trancafiando-me ao sol. Enfim, meu amigo, desejo não incomodar-lhe; e caso receai e recusai esta confissão, pediria-lhe que meditasse primeiro, pois esta é a única que posso deixar-lhe.

Pois bem: Sou-me, inglório fim.

Beatriz.

Kiev, 31 de dezembro de 1991.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Morte-vida

Um ano. A data veio e ela a matou. Matou o beijo escondido, final e começo de namoro em seqüência, dias de matar aula, bilhetes de cinema do Diammond guardados na carteira, bilhetes-poemas no caderno. Ela matou os instrumentos que empoeiravam na sala e no quarto. Poeira vinda da falsa liberdade da porta sempre escancarada do paraíso deles. Música que unia opostos. Medo de mãe, dos outros. Muitas farras, farpas. Leveza e rudeza que se completavam naturalmente. Vontade tanta, unir-se. Festa para anunciar a loucura em um ano. Um ano. Um ano depois do depois, matava-os em remédios, crises. Em carros, velocidade. Em pontes, destruição. Ameaças telefônicas. Rosto desfigurado matava levezas já perdidas. Ela chorava caída no chão. Ele de pé com a mão, ainda trêmula, estendida. Já havia matado o respeito. Consultas, decisões sem consulta. Matou-se por um, mais um, mais um anos de sua mocidade. Arrastou-se. Esqueceu de equilibrar entre pólos. Dois. Um de pé. Outro caído. Alegria de arrancar anel do dedo e jogar com força no chão. Anéis, taças, pontes, corpos, chão. “Eu me atiro em você, vida!”. “Eu te tiro de mim, morte!”. Tristeza de depois. Depois de dois pólos, três tempos: um ano. A data veio e ela esqueceu. Agora, ela bebe. Ouve canteiros. Levanta a taça, comemora e se torna assassina.

- Eu te mato, saudade!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

“É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar,
mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo."
(Clarice Lispector)
Nós somos mim.
E para ser mim, não basta eu. Eu-eu relação ativa só para os outros, quando não mim, não eu. E este eu sem mim é passivo, fecha e abre cortinas como se abrisse janelas para os diversos eu. Mas para ser eu, ativo, preciso do sopro de mim. Nós somos mim. E mim quer, mim necessita ser eu ativo, com liberdade de inventar as conjugações porque mim como nós nunca terá regra, nunca será expresso, por mais que mim faça do sufoco, palavras. Só mim faz isto. E ser-me não há regra; não é expresso por não existir, apenas suportar o eu passivamente. Nós somos mim. Nós-mim dá-me o eu falado, nós-mim é o sopro de uma única existência sem regra, que se preenche de nadas para ser só tudo. Nós-mim, sopro de existência, enche-me e esvazia-me de eu. Preciso perder-te de mim para encontrar-me eu, mas nós somos mim. Nós somos mim, mesmo sem nunca ter-te mim...
Eu não sou-me sem mim.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Na noite quente, tomou-a pelas mãos. Tomou-a todos os sentidos.
No breve segundo entregue, pela primeira vez, ela teve fome.
Ela teve fome de coisas simples. Ao lado daquela alma, ela se expande
De calor. De vida. De fome...

Ela tem fome dele-vida.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

No final, de novo início...



... Por toda a vida, eu vou.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

“Come and see me
Sing me to sleep
Come and free me
Hold me if i need to weep
Maybe it's not the season
Maybe it's not the year
Maybe there's no good reason
Why i'm locked up inside
Just cause they wanna hide me
The moon goes bright
The darker they make my night"


Prometo a mim que estas serão as últimas linhas. São as tais promessas de nunca mais, feitas tantas vezes e que valeram não mais do que por dois segundos. Estranhamente, prometo sem a necessidade de fazer uma promessa, efetivamente. Não seria capaz de cumpri-la, nunca, nunca mais. Depois de tantas mortes de mim, quantas vidas ainda me restam para desperdiçá-las em silêncio? Sabida a resposta, a ação, companheira de caracterização do “nunca mais”, dura também por dois segundos. Dois segundos de cansaço intenso, de corpo, de alma, de sentimentos claros, uma lucidez assustadora que me leva até você, desmancham a minha antiga promessa de não mais envolver. Enganei-me comigo ao achar que podia ser forte e evitar, calar o que, de primeira, foi eloqüente. Por dois segundos relativos calei e em dois segundos literais o pensamento tomou ares de promessas ilusórias de vida em comunhão. Sim, comunhão. O que não havia necessidade de falar, a menos ao meu entendimento, eram de tais comunhões. Até mesmo os olhares de fora percebiam o que não víamos. Eram iguais... as aflições e inseguranças justificadas com o desenvolvimento humano e instabilidade característica versus equações que tendem ao infinito, a doçura de escrever do que é de dentro camuflado, esse medo da entrega extrema e a adoração de momentos únicos. E são tantas coisas que mereciam ser faladas, mesmo que por dois segundos, e não foram, nem nunca mais serão. Talvez o nunca mais dure um pouco mais ou um pouco menos do que a ‘alegria triste’ que permeou há algum tempo.

“Unplayed pianos
Are often by a window
In a room where nobody loved goes
She sits alone with her silent song
Somebody bring her home"

Desintegro-me Luiza, volto-me Marina que pensa no que ouviu um dia “coisas simples dão vontade de comer” e completa que o que é complexo, dá vontade de guardar. Guardo em promessas (de flores) sempre-vivas e aguardo o momento de dois segundos eternos... ou nunca mais.

"Unplayed piano
Still holds a tune
Years pass by
In the changing of the moon..."

sexta-feira, 24 de agosto de 2007


"A imbecilidade tem direitos...
... MAS TEM LIMITES."
(Victor Hugo)

Pobres seres desprovidos de luz, não tão menos pobres do que os deficientes de sensibilidade visual, mas ambos deficientes da alma. Aos primeiros, não os culpo, a imbecilidade nata apenas se faz. Solidifica-se em perguntas – verdade crua, justificada pelo fato de que sem luz não há visão, o que torna a imbecilidade dulcíssima. Ah, os pobres deficientes de sensibilidade visual. Não vos digo, por estas linhas, dos deficientes visuais, não. Ao pensar tal possibilidade antes mesmo de fazê-la real no papel, seria de uma incoerência tamanha com minha decisão profissional. Digo-lhes dos que frente aos olhos têm a verdade, mas continuam a buscá-la. Seres brutais, tais deficientes de sensibilidade. Possuem toda a magnitude de uma vida clara, plena e feliz, mas se contentam com o obscuro, com o ilusório fantasma cinematográfico, que (sim!) antes fazia-se de luz mesmo alheia e opaca. Pobres seres insensíveis que por não compreender o mal, deixam as clarezas à margem. Pobres seres faraônicos que se contentaram com muralhas, sem nunca saber – ou negligenciar – o real sentido da liberdade.
Aos pobres d'alma, minhas náuseas.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Endless circles.

Eu acordava e sonhava.
Eu andava e procurava.
Em busca da ventura,
Eu esperava...
esperava...
esperava.
Eu me cansava...
Sem rumo.
Sem mais... acreditava.

Por fim, o vi.
Eu encontrava e apertava
- contra o peito,
Eu segurava e guardava.
Eu deitava e sonhava.
Revirava o já escrito e o modificava.
Relia e reascendia:
Signos, símbolos, sentidos.
Eu voava e sentia.
Eu sentia.
Sentia...
Sentia...

O toque longe, eu sentia.
O primeiro sonho, eu sentia.
O meu primeiro sentido.
Mas ventava e ainda venta.
Ainda vai, coisas inatingíveis – oras!
ao meu toque e sonho
e sentido, ainda vai.
Eu acordo e verifico
Os tristes caminhos.

Eu ando e procuro.
Eu espero...
Espero...
Espero...
E adormeço na distante presença
das estrelas.

sábado, 4 de agosto de 2007

Elos. Nada é firme na vida. Tudo passa. Tudo é inconstante, transitório... Sole. Tudo quebra. Talvez algum dia nos seja agradável recordar estas coisas. Tudo cansa. Mas continuo. Sola. Admirando não só a elegância das coisas, mas também a das palavras.


Acta est fabula...

De onde te vejo

Sonhos relembram o que precisamos viver
Mas eu recordo de sonhos não completamente vivos.
E tu, guardas memória numérica de tudo?
Mesmo do início,
Quando insistias em esquecer
O que de mais poderia ter sido?

Já eras belo, então.
De onde te via verde era mais chegado,
A paz, mais contemporânea
E a lua
(Tal qual a borda superior de um copo cheio
Que transborda o céu de estrelas, a sua lua...)
Julgava embelezar as noites de tua ausência.

Vivo de angústia a esperar o inevitável,
Que não se consuma
Mas reafirma-se na memória de um rosto inolvidável.
Já eras belo, então?
Ou sou alvo fácil do passar do tempo,
De um ardil ferino da imaginação?

Sim, sou o guarda da noite
E dela observo o que me possui.
Nada poderia ser mais insone
Que meus olhos nos teus ao raiar de outro dia de doce ilusão.

Aguardo o definhar de uma dúvida
Que te pertence
E me incita a provar do antídoto
Deste amor gélido-ardente
Com o qual me embriago
Num sentir sem precedentes.


Tecla sap:
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sábado, 28 de julho de 2007

É... saudade?

Todo dia de manhã, a mesma rotina. A mesma caneca de café puro, sala de estudos e computador ligado. Até mesmo em dias letivos meus primeiros minutos antes de ser a Srta. Rezende são assim. De fronte ao imenso mundo virtual, tenho lugares certos a navegar. E encontro sempre um encanto, um testimonial com uma poesia, uma frase do velhinho das barbas brancas ou um sorriso contido por ter visto algo extremamente tosco e quisto compartilhar com a menina que se transforma (além de que dorme demais, cáspita!).

Todos os dias. A mesma ternura com que sou tratada tento tratar, e a resposta vem sempre doce, com um 'ah, Pinka!', naturalmente. Todos os dias uma mulher se veste de mulher ruiva e sopra pozinhos, transmuta-se em duenda com flauta em mãos a roubar-me - não, roubar-me não! Compartilhar, isso! - digo, compartilhar parte de nossa infância. E todos os dias ficam curtos de tanto que se fala, gesticula, canta, serena e faz sorrir. Os antigos merecedores de sorrisos que um dia, em um papinho informal, eu pedi à Deus! Ele, na figura Dela, veio... Veio fazer de todos os meus dias paisagens de sentimentos. Sim, paradoxalmente ao me ver nela me sinto mais eu. Sinto confortada pelo destino de poder ser como Ela é (ou algo muito próximo, tenho comigo essa certeza), ser um ser noturno não dói mais. Tenho além dos dias, as noites acordadas e nosso lugar seguro. Nosso lugar de conversas sem fim, travesseiro quente e muito afago. Almas irmãs que se encontram e se abraçam, tanto no claro dos sorrisos radiantes como nas noites chuvosas. Todos os dias não são mais iguais e tudo dá pé porque a tenho como uma filha tem a uma mãe, como a flor tem o cuidado, como a vida tem os sentimentos.

Todos os dias... exceto esses dois dias e meio que a sua presença se faz no coração. Eu, egoísta (sim, também temos vícios de linguagem, né, Pinka?). Ela merece o descanso desses dias, mocinha! E, ela merece muito mais do que um lugar calmo. Ela merece o manto das santas protetoras dos que vivem inocentemente. Ah, mas eu não consigo parar de pensar como todos os dias são singulares quando em sua companhia, e lamento não ouvir, por ora, a menor e mais bonita poesia: 'Voltei...'. Estes dois dias e meio são reflexo do imensurável desejo de partilhar emoções estáticas, emoções incoerentes, emoções mutáveis. Nesses dois dias, o café puro na mesma xícara se manteve, assim como a ronda nos bat-lugares e a certeza de que está tudo bem, só as cores e o meu sol que não saíram todos esses (dois longos) dias.

- Duende, dá pra devolver o meu Sol?

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Mosaico, mistureba e mimimi

"Há uma maneira de evitar que se assemelha a procurar..."
(Victor Hugo)


Corpo cansado, mente cansada. Ocorreu uma implosão de pensamentos que a fez perceber que angustia. E além deles ninguém viu, ninguém sentiu... Da janela, uma visão vermelha. A vida avermelhada, quente fora e dentro dela, barulhos sem fim – é a centelha do que arde, deixa carne viva vermelha. Ela quer descanso e algo que entorpeça, mas consegue somente permanecer na janela incorporando cada feixe de luz que se vai e cada ponto luminoso que acende ao longe.

- Estava lindo. Pontinhos de nada, na noite que não deveria ter fim.

“Sem fim”. Ela fala para dentro. Fala para si, como se precisasse agarrar-se em cada fragmento de memória ainda vivo. Mas hoje, ela sabe que não precisa de palavras – mesmo sendo tão necessário serenar com a construção das linhas; a comunhão é outra no silêncio: o diálogo mais complexo, encontro de desejos inconstantes. Não, ela não precisa mais das palavras hoje. Ela tem a vida vermelha da janela, ela tem os tremores internos e as luzes crepusculares da memória. Ele é lunar. Ela é lunar? Ela também é lunar, a sua maneira. Luiza minguante a se jogar na cama tentando sentir o cheiro que nunca estivera ali em seu travesseiro. "Cubra seu rosto, Pequena... Esconda seu adolescer tardio". Ela, olhar perdido, observa o que há muito estivera lhe habitando. O que ela encontrou aquele olhar? Seus olhos crepuscularmente minguantes ainda cintilam. Ela chega mais perto? Ah! Ela se esconde dela. Escondendo os olhos, esconde-se a alma, mesmo havendo nesses teimosa entrega. Peças de dentro se encaixando (aqui e ali, será?)... Encaixa-se, Luiza! E o que virá no amanhã? Luiza nova e a certeza de que o que hoje se esconde, permanecerá “milênios e milênios no ar”...



Obs.: Ela assombra-se com a realidade não diferente das outras, e teme que tenha sido lida. Não ter tido suas palavras, mas seu corpo lido. E, ele foi, ela pressente que sim. De súbito, percebe-se toda uma vida, em forma de pressentimentos. Ela, finalmente, percebeu que o mesmo sempre é isso: o medo de ser lida por inteiro, ser atropelada por olhares que não respeitariam nenhuma pontuação, porque ela se permitiu ler. Agora, ela não mais controla. Inconscientemente, a moça se entrega, deixa de ser densa. Despindo-se das metáforas que a escondiam, ela se sente limpa, clara, talvez (não se sabe ao certo...) ela se sinta ansiosamente viva e quer chorar. Ah! Quer chorar atéééééééé que o cansaço do talvez desapareça.

Obs. II: Aos pequenos, emoções inversamente proporcionais ao tamanho...

quarta-feira, 11 de julho de 2007

- Deus, dá um grito e manda tudo parar, dá?

Tudo pulsa, aqui dentro. E dura e dói de tão belo. E cintila, expande e toma o que é de direito por tanto tempo. Distorcer a realidade, solução? No mundo que apalpo, as coisas são sonhadas. No mundo que sonho, as coisas são palpáveis (ou não...). Na cor-viva me encontro e me perco. E me perderia, sempre, para encontrar a cor-sonhada no mundo que apalpo.

- Dois fios, Deus! Entrelace-os ou mande parar...
- Hey, Cérebro, o que vamos fazer esta noite??
- Vamos fazer o que fazemos todas as noites, Pinky!
- Vamos dançar a polka, Cérebro??
- Não, Idiota! Vamos fazer o que fazemos todas as noites.
Tentar dominar o mundo!!


Agora, eu: - Hein?

segunda-feira, 2 de julho de 2007

“No tele-espaço pousado em cores no além
Brando, corpo celeste, meta metade
Meu santuário, minha eternidade
Iluminando o meu caminho e fim
Dando a incerteza tão passageira
Nós viveremos uma vida inteira
Eternamente...”


Entre os chãos, distância. E ela sorri como se pudesse observar o mundo sem ser percebida. E ela vê tudo, deixando o antigo olhar cansado das mesmices, para ver o que ela tanto deseja. Entre muitos, nada. No corpo um torpor. Ela sente seu rosto queimar e esta quentura desce milímetro por milímetro. Ela respira. Ela controla. Ela observa, após sorrir com a alma, e sente que tudo, antes, era nada. Entre nada, o dela. O destino enfeitado por flores, o dela... Deus brinca com os raios que caem seguidamente. Raio que transforma chuva em pó que cintila, naturalmente. E o tudo, antes nada, brilha tanto, que ela resolve se desfazer em todas as cores, juntas a se movimentar deixando a pele branca ao perceber que pode ver sem ser vista. Entre chão, entre muitos e entre nadas, o que é dela? O esconderijo secreto do olhar, espelhos e desejos. Felicidade sublime! Ela pode ver quando não se vê mais “os nadas”, nem os chãos, nem “os muitos”. Ela vê, com o coração, tudo! Ah! Os tremores, a fuga, e começo de sorriso final a acompanhá-la por todo o caminho de casa. Deus está nos detalhes e ela em oração.
Ela, meta-metade refeita em canto, encanto... vem andar e voa. Vem andar e voa.... voa!

terça-feira, 26 de junho de 2007

- E esse sorriso?

Eu o vi. Em uma seqüência numérica, traduzida em cores, eu o vi. No mesmo instante que o vi em cores, eu o vi dentro de mim. E ele estava lindo, como sempre. No olhar, havia algo que eu ainda não sei, mas que transforma. Transforma tanto e tudo, que eu esqueci dos transtornos desses dias, das amolações gratuitas, da insistência das outras peças que já se foram e não se encaixam, aqui, mais. Esqueci, também, do quanto neguei o que sentia quando o via, assim, gélido; e entendi: ele estava paralisado no tempo real, mas vivo dentro da minha realidade inventada. Não como as outras peças que duraram tempos. Não... Ele, realidade de dia singular, viverá uma vida inteira aqui dentro. E, é isso. Ele sempre vai estar vivo no meu mundo, porque no silêncio dos dias – e da vida – nos comunicamos, mesmo sem ele saber, e isto basta. Basta saber que há algo naqueles olhos que revive qualquer cor pálida. Eu o vi: uma explosão de cores traduzidas numa única e simbólica cor. Ah! E ele sequer sabe disso... Mas eu o vi – lá fora e aqui dentro – e senti meu corpo respirar, novamente.

- Não vai responder, não? Você não sai desse mundo, hein, Luiza?

segunda-feira, 25 de junho de 2007

reminiscência

"Well I can't explain why it's not enough, cause I gave it all to you.
And if you leave me now, oh just leave me now...
It's the better thing to do. It's time to surrender, It's been to long pretending.
Theres no use in trying, when the pieces don't fit anymore..."

... and the pieces don't fit here anymore.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Dois meses arábicos


“Vem, me dê a mão, a gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá desse quintal era uma noite que não tem mais fim”

Não me assustaria se em meio ao latim, alguém me lesse inteiramente, e é isso que busco. Alguém que me leia por completo, seguindo minhas reticências; necessito que tome por leitura minha existência, não o ser monte-de-moléculas Marina. Quero ser livro denso, língua mãe, ser devorada por olhos, mãos, boca, corpo na sua função verdadeira: viver. Faltou-me liberdade! Laçaram-me a alma pela pior forma, prendendo-me entre as mãos delicadas. Não posso ser pássaro preso, nem para curar-me asa quebrada. Hoje, recruto osteoclastos para reabsorver cada mg ósseo que me resta, transformar-me em pensamento, agarrar-me à dialética e abstrair do certo que “traria” felicidade. Finda o tempo de ser o que não sou, de amar o que não amo, de ser sombra e, por não ter sido lida, ter que me mostrar calor. É moça, hora da apoptose das células que eram de qualquer um, menos suas.

“E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?”

E, enfim, reticências...

domingo, 17 de junho de 2007

Nunca se teve um inverno tão rigoroso, e nunca se quis tanto que o sol enfeitasse os dias. Se fechar dos olhos foi uma opção para se proteger do vento frio, que o abrir agora aconteça, pelo brilho dos céus. Ela deseja, mais do que podem imaginar, ser cores deste sol. Todas em uma só, e voltar a vida, assim, em flores. Será perder-se novamente por volição? Será da vida isso: mudanças de estações do ano, de luas e de sóis... Será, Luiza?


O que se guarda em caixa de delicadeza, independente na nova estação, são suas sempre-vivas, infinitas enquanto durem. Deixa estar... posto que são sempre vivas.

sábado, 9 de junho de 2007

"Moça, olha só o que eu te escrevi..."


Das estrelas via-se um mundo sem cores. Via-se vidas opacas, jardins secos, caixas vazias. Renovar tudo, o grande manipulador resolve. Colocou então no mesmo caminho duas sonhadoras. E uma flor magnífica, cresceu devagar...

“É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê”


Surgiram afinidades, projeções, apertões virtuais. Dela ganhasse o melhor afago, o apoio incondicional, a cara a tapa em busca do que é nosso de direito. Direito. Entre tantos homens, tantos livros, encontra-se junto à ela, um ser de barbas brancas que lhes dá licença para alterar qualquer escrito. Licença poética da vida! È isso! Ela tem licença poética para alterar qualquer pedaço de ser, de tocar fundo, de espalhar pozinho de pirlimpimpim e deixar tudo branquinho... Juntas inventam-se histórias em quadrinhos. São Batman e Robin em busca do terno. E, quando o tempo simplesmente pára, com ela consegue-se leveza suficiente para que, com apenas um sopro (de vida), ele volte a andar. Assim como quando o mundo insiste em desafiá-las. Ela ternamente resolve dominá-lo através dos sonhos de laboratório. Às vezes, num deslize, faz-se cada coisa, Pinka! Às vezes, surgem idéias brilhantes e doces, Cérebro! Tão cérebro que em dias nublados ela, docemente, grita:
- Hannibal! Coma o indelicado!
E depois do banquete, ela sorri, e saltita pelos jardins e não dorme. Proteção, doninha... Proteção!

“Sei que o vento que entortou a flor passou também por nosso lar e foi você quem desviou
com golpes de pincel...”


Ela possui o poder de saber quando tudo está sem cores. Nesses dias, ela vira magia. Cigana a dançar, e em dois minutos têm-se histórias incríveis com todos os retratos em preto e branco... Ai de quem nunca teve bolha de sabão! Ai de quem nunca rasgou o coração! Ao lado dela, o peso das decepções diminui, a vida fica terna, doce, colorida, florida na medida certa. E descobre-se que a medida certa é uma só. Uma única coisa passional e branca. Alva de alma. Orquídea branca, mãe, amiga, companheira de sonhos. Menina flor, sortuda! Eu, (245 vezes) sortuda! Duas crianças que, agora, voejam longe. Vão de encontro ao céu, e, ficam a observar o mundo sem cores lá de cima, do esconderijo seguro.

“Eu sei, é o amor que ninguém mais vê. Deixa eu ver a moça... Toma o teu, voa mais, que o bloco da família vai atrás!”

Eu, sem palavras para agradecer!

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Do sagrado construto

"O monstro sagrado morreu: em seu lugar nasceu uma menina que era sozinha"
(Clarice Lispector)
O rosto não reconhece mais. O que é divide-se em duas máscaras que não se refletiam no espelho de ontem. Uma ri, entorpece em líquidos de felicidade e traga fumaça doce. Deixa lábios com gosto de frutas e beija o que é apenas a malignidade do desejo de ser feliz. A outra, na volta do barco, tem peso nos olhos, estômago poético e consciência escura. Pinta-lhe no corpo a dúvida do não saber o porque do que agora se concretiza, e mesmo assim brinda com o acaso. Nas esquinas, as duas encontram-se. Resta-lhe se embebedar de passado e se matar no presente. Ambas não são ela, mas ela é ambas momentaneamente. Não sendo o que algum dia se fez, vira o que não tem governo. O que se mata hoje, alegra-se amanhã. Ela não é mais quem os seus costumavam acreditar que fosse. Imagem inversa, agora duas, e, em prece pede a Deus para não interiorizá-las. Ah, ela não é nada disso.

sábado, 2 de junho de 2007

Das necessidades

Quero palavras. Suplico por mais, muito mais. Mas não de qualquer um, quero as minhas. Quero poder fazer com que elas fluam da tinta para o papel. Quero esforço mínimo, quero leveza. Tirar os pés do chão, colocar a caneta na folha e ir, sem pensar, sem penar. Sorriso leve, dias de sol e frio. Quero cidade histórica. Quero história com começo, meio e fim. Sim! Pode ter fim, tendo começo e meio... De volta a prolixidade, eu quero. Eu preciso das palavras, mais do que das imagens. Preciso das letras, preciso encontrar em lugar perdido, encanto. Eu quero entrega. Quero vida inteira, quero doação extrema. Quero enraizar, crescer, florir. Quero conjugar todos os verbos. Eu preciso! Peças que se encaixem, eu preciso, simplicidade! Eu quero... E, eu preciso tanto, tanto, tanto de mim.

Quero também: James Morrison – Wonderful World

“And I know that it's a wonderful world
But I cant feel it right now,
I thought I was doing well but I just want to cry now,
Well I know that its a wonderful world from the sky down to the sea

quarta-feira, 23 de maio de 2007


Em 23 de maio de 2007, às 13:38:32 uma borboleta, capaz de carregar consigo todos os sonhos de uma menina pousou num jardim perto da Terra do Nunca. No mesmo segundo, o vento esgueirou-se por magia sob o acaso fazendo os corpos dançarem ao som final de ‘Crash into me’ e os lábios se adocicarem, sem que ninguém notasse.

Neste instante, no sexto andar de um hospital, uma jovem fica estática frente a mais doce surpresa de todos os tempos: músicas de se deixar levar e muita ternura em cada pedacinho doce. Os dizeres do papel fizeram de coisas simples, motivos para sorrir. E o fotógrafo, o delicado Srto. Quincampoix, de longe, pressente preocupadamente todas as interseções futuras, e mais uma vez, em um click, faz ternuras!

Já em casa, ela vê: “Então, minha querida Amélie... você não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance... então, com o tempo, seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então... vá em frente, pelo amor de Deus!”

Estamos em dias reais de maio. São exatamente 19:12 h da noite. No lar de Srta. Fonseca, em frente ao computador, no final de mais um dia de aulas na faculdade. No mesmo instante em que Deus resolve fazer mais uma gracinha. A temperatura é 24°C, a umidade é 70%, e a pressão atmosférica, 990milibar.

sábado, 12 de maio de 2007

Décimo segundo dia do mês de maio. A moça acorda com um aperto no peito, e ainda na cama reza para conseguir aliviá-lo. Sem sucesso, apressa-se para o banho, onde as suas gotículas se confundiriam com outras tantas. O que urge, além dos cristais, é a ausência dela em si mesma. E dói tanto que ela dobra-se, ajoelhando-se, para ver sair de si uma outra mulher. Despedindo-se com candura da moça, que ainda fica do lado de dentro, ela sai como a outra mulher que fala, gesticula, dança o que vier e mente delicadamente ao sorrir. Mentira maior contada a aquela pequena moça que se dobrou. A pressa do dia ela mede por ponteiros, que sem se mover, andam com o vento. E, venta tanto... O tempo apressa-se e finda o dia em pensamentos. A moça pensa na ausência de mês que faz com que surja mulher qualquer. Falta-lhe tanto que é como se lhe faltasse um membro. Suas atividades, moldaram-se ao dia que o mundo de “ponto-com” foi envolvido pelo acaso e feito dos dias, alma. Tanta coisa por de trás dessa moça, e ela consegue apenas (de forma compensatória) dobrar-se em mulher qualquer. Fraqueza que não permite falar, para flor, do acaso ou da magnitude do de dentro ou dos porta-retratos na parede branca. Fraqueza da palavra que floresce algo já sabido e negado e faz com que o dia, antes mágico, se feche em nebulosidades e vírus. E o que a moça rezou baixinho em diferentes momentos do dia foi força para apenas seguir, sem tentar assimilar particularidades que somente o que lhe falta pode trazer a ela. Deus e Deuses surdos! Céu e Sol encobertos e ventos... E, ela apenas vive em função do que ainda teima em bater.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

LISPECTOR, C. Paris, França - Janeiro de 1947

"Tenho visto pessoas demais, falado demais, dito mentiras, tenho sido muito gentil. Quem está se divertindo é uma mulher que eu detesto, uma mulher que não é a irmã de vocês. É qualquer uma."

quinta-feira, 3 de maio de 2007


Iaiá, quanto pecado! Eis o abismo em sua frente e dois passos para sua salvação em qualquer direção. Caso para trás, continuará no mesmo bosque. Caso para frente, irá se jogar ao infinito. Ficar estática frente aos ventos não se pode mais, Iaiá. Falta-lhe coragem, até mesmo para ser esta que não muda, vivendo os dias como o apagar de uma luz. Nas manhãs ligam os interruptores. Nas noites, desligam-nos, mas o corpo cansado de apenas existir não se pode ‘apenas’ desligar. Ah! Como cansa apenas existir. Ah! Como dói! Doninha, você sempre soube, não diga o contrário. Para um corpo infinito é preciso clareza que essa luz de interruptores não vai lhe dar. Para entrar no bosque, por sua vez, é preciso desligar-se de todos os seus conceitos e aceitar a sina dos porta retratos vazios. Escolha única e exclusivamente sua, minha pecadora Iaiá.

sábado, 28 de abril de 2007

"Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus." (Clarice Lispector)


Sou assombrada pelos meus fantasmas que surgem do ontem. Na linha tênue dos meus sonhos, me transformo em duas. Uma liberta-se de paradigmas e vive do desejo maligno de ser feliz, a outra se tranca em escritas e páginas, vivendo de papel e tinta. Não preciso de definições constantes, sou apenas mais uma vinda do sagrado construto que se desfaz em segundos com a chegada de novos fantasmas, e assim me desmonto. Para me organizar preciso de me desorganizar intensamente. Transformo no bêbado e na equilibrista, no que não deveria se mostrar e no translúcido porta-retratos, mas aceito essa condição contraditória. E, sendo mais de uma, necessito de testar-me. Brinco com meus “eus” e com meus erros, na busca do que algum dia será o verdadeiro. Enquanto houver possibilidade vou continuar a brindar com o acaso, sem esperar mais do que isso. Irremediavelmente, serei sempre quem vai errar por tentar e fazê-lo até que se esgotem todas as possibilidades. E na nova cara de menina sozinha ficará apenas uma definição constante: minha liberdade.

sábado, 21 de abril de 2007



Após o êxtase, o cansaço. E após o cansaço? O conforto que não vêm. Demoras e linhas tortas: apenas mais um não, restando o que importa além das coisas casuais. Horas de brindes e tesouras. Sabe-se lá, se foram pensamentos, sempre. O sentir das eternas formações deliróides a corromper toda a resistência, o pen(s)ar final. Preciso parar de me entorpecer...







... e de cortar meus cabelos.

domingo, 15 de abril de 2007

Todos os meses deveriam ser Maio. E todos os dias deveriam ser como hoje. Logo hoje, um domingo de abril normal. Deveria ser um domingo de Maio. Exatamente dia 12. Tem data mais bonita? Tudo redondinho, doze e maio. Grande surpresa para quem tem fascínio por números pares e, claro, por Maio, também. Os domingos de enterros se foram e ainda estamos em Abril. Está ouvindo, Bira? Meus malditos domingos ganhando caras novas. E bastou-me um sorriso congelado, em cores! Todas juntas no abrir da lente e zas: Felicidade! E depois, ventos! Deixando a certeza de que se deve morrer como morrem as sempre-vivas...


Bira, porquinho, pato e cachorro: - Ela... ah!

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Confusão Urbana


As pessoas e os carros param. A cidade em caos pára. O dia pára e a banda passa... Enquanto eu, da janela, observo o nada reluzente. Olhar perdido, sem causa. Muito a ser feito e eu paro para ver passar, sorrindo de canto com os olhos. Sem muito esforço, permaneço na janela do trânsito caótico do que há dentro. Fomento o desejo de não mais ir contra a corrente. Rendição... Deus, cansei da esquerda por dois segundos. Resta-me Marina, seis horas da tarde.




quinta-feira, 5 de abril de 2007

"Eu quero é que esse canto torto, feito faca, corte a carne de vocês..."

A imagem no espelho não é a mesma de seis meses. Antes, os olhos estavam fechados. Cargas pesadas para as sensíveis pálpebras. Não via, não via nada. Hoje, luz que incide sobre o cristal de Luiza faz cegar. Dois pontos continuam os mesmos no meio de tantas mutações: o motivo por trás do que faz cegar e o ato de cegar-se, puro e mecânico. Reconhecimentos, sim. Seria o caminho se o canto não cortasse a carne e sangrasse até a última gota. É o que eu quero: esse cego desespero modista a cantar "tenho vinte e cinco anos de sonhos, de sangue e de América do Sul", talhando sobre a pele mais um belo ciclo a se finalizar. Se sou raio, cega-me. Se sou escuridão, cega-me. Posso ser tudo e não ser, ou até ser o que não posso ser, assim, traçada nessas linhas. Ah, a vida inventada é muito melhor!

sábado, 31 de março de 2007

“Sky, so vast is the sky
With faraway clouds just wandering by
Where do they go
Oh! I don't know, don't know”


Fazer achados em cores, busca interminável. O arco-íris tão próximo ao abismo navegável por sonhos de papel. E do lado de cá, súbita fotografia em sépia, sem dedicatória. Um novo abismo senão a presença das cores à espera do toque. Algum dia, será? Sonhos de papel...



Don’t you know, Dindi?
Oh, my Dindi...


quarta-feira, 21 de março de 2007

Laço roxo de cetim.

Laço roxo de cetim nos cabelos da morena, laço roxo...

Véu branco.

Brando, branco gelo.

Derrete a neve, por debaixo: vermelho.

Roxamente vermelho, gira. Sol.

Roda gigante, gira mundo.

Roda vida multicor,

nos cabelos da morena.

sábado, 17 de março de 2007

"Rua, espada nua"

Diabinhos sopravam no ouvido dela:
- Abra a caixinha, Luiza. Abra! Deixa o cheiro da memória exalar pela sala.
Ela examinava meticulosamente os riscos de liberar o forte cheiro do guardado. Por vezes, anteriormente, pensou que não exalaria mais o cheiro de mofo, e, abriu um cadiquin só. E lá veio o cheiro forte... Agora, caso ela abrisse de vez a caixa, quão forte o cheiro exalaria? Diabinho ao pé do ouvido e as mãos coçando. Pronto: caixa aberta.
Um filme pronto para dar o play. Quanto tempo não via ao velho filme guardado na caixa que exalava mofo? Tempo suficiente para ela esquecer o quanto significava vê-lo em cores a se movimentar.
- Anda, Luiza! Aperta o stop!
Diziam os anjinhos, tentando recolocá-la nos eixos. Era tarde... O cheiro já não é tão forte, mas a inexplicável sensação o é, de forma exagerada, para não se fazer presente. Escuta, Luiza, a canção que fizeram para te esquecer...

quarta-feira, 14 de março de 2007

"Que saudade agora me aguardem
Chegaram as tardes de sol a pino,
Pelas ruas, flores e amigos,
Me encontram vestindo meu melhor sorriso,
Eu passei um tempo andando no escuro,
Procurando não achar as respostas,
Eu era a causa e a saída de tudo,
E eu cavei como um túnel meu caminho de volta."



Depois do inverno a vida em cores....




quinta-feira, 8 de março de 2007

Dia Internacional da Mulher

“Nada mais assustador do que a ignorância em ação” (Goethe)

Na Segunda metade do século XVIII, as grandes transformações ocorridas no processo produtivo e que resultaram na Revolução Industrial, trouxeram consigo uma série de reivindicações até então inexistentes. A absorção do trabalho feminino pelas indústrias, como forma de baratear os salários, inseriu definitivamente a mulher no mundo da produção, passando a obrigá-la a conviver com jornadas de trabalho de 17 horas diárias, em condições insalubres, submetidas a espancamentos e ameaças sexuais constantes, e salários que chegavam a ser 60% menores que os dos homens, condição esta que não difere muito dos dias atuais.

Então, no bojo das manifestações pela redução da jornada de trabalho, 129 tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton, em Nova Iorque, cruzaram os braços e paralisaram os trabalhos pelo direito a uma jornada de 10 horas, durante primeira greve norte-americana conduzida unicamente por mulheres. Violentamente reprimidas pela polícia, as operárias, acuadas, refugiaram-se nas dependências da fábrica. No dia 8 de março de 1857, os patrões e a polícia trancaram as portas da fábrica e atearam fogo. As tecelãs morreram carbonizadas e asfixiadas.

Durante a II Conferência Internacional de Mulheres, realizada em 1910 na Dinamarca, a famosa ativista pelos direitos femininos, Clara Zetkin, propôs que o 8 de março fosse declarado como o Dia Internacional da Mulher, homenageando as tecelãs de Nova Iorque. Em 1911, mais de um milhão de mulheres se manifestaram na Europa. A partir daí, essa data começou a ser comemorada no mundo inteiro.

Um pouco de história não faz mal a ninguém, e de reflexão também não. Que hoje votos sinceros sejam feitos. Abster de comentários inúteis é a melhor alternativa para quem não faz a menor idéia do quão importante é o dia de hoje.

Sortuda que quem, assim como eu, recebeu votos verdadeiros e ternuras que me dobraram em flor; mesmo com tanta asneira por ai. Ainda me restam pessoas doces. Teimosa, eu! Diria mais: teimosas, nós doces! Reclama não ouvido, chora não coração. São apenas homens... Amém!

terça-feira, 6 de março de 2007

A velha ampulheta e o antigo tempo. Nessa espera interminável trancafiei-me dentro dessa vendo o tempo passar. Assim, de bobeira como quem nada quer... Sabe-se que a passional nunca deixará de ser passional e que as ondas por mais longínquas fisicamente estão aí. Os anjinhos sopram no meu ouvido: cuidado. Besteira qualquer essa coisa de dizer “Ah, mudei.”. Mudei nada... Enfrento o que me mata fugindo como uma louca. Um pouco de loucura é essencial, alguém, que minha fragmentada memória não lembra o nome, já havia dito ou como qualquer Zezinho da Esquina é capaz de dizer. Como se à mim, sentimentos fossem permitidos assim como a loucura ao louco é perdoada. São tantas músicas, tanta interatividade, tanta sensibilidade, tanta sintonia e tantas milhas. A única coisa que foge a mim é a sensatez. Viva os deliróides! E no mais, pra quê sensatez?! Não me serviu antes, não servirá agora. Eu não vou pensar, eu não vou penar, eu não vou! Está formalmente aberta a temporada de felicidade.


“Sol, girassol, vejo o vento solar
Você ainda quer morar comigo?
Vento solar estrelas do mar
Um girassol da cor de seu cabelo”

(Lô Borges – Girassol da cor de seu cabelo)

sexta-feira, 2 de março de 2007

“Oh chariot I'm singing out loud to guide me”


Todas as portas e janelas abertas. Tão casualmente como uma idéia pequena e muitas pretensões... Deixa entrar o vento da ternura nova, deixa se desfazer as horas em uma contagem regressiva interminável, que não se pode evitar. Deixa o anjo sorrir e pular do arranha-céu. A escolha duvidosa entre permanecer no plano etéreo ou se entregar ao mundo dos reais. Deixa o acaso falar, quando eu quero ouvir...


Mais ou menos assim óh: Gavin DeGraw - Chariot

quinta-feira, 1 de março de 2007

Quod non te occidit, uigescit...



"Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada -

Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser..."

(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Um e-mail e um eterno escreve e apaga para responder uma pergunta simples: “O que te falta para ser menos ‘infeliz’, Luiza?”.
Eu respondo!


O que lhe falta para ser menos infeliz? Drummond diria que, por vezes, pensou que falta fosse ausência, e um dia descobriu que não, e mais, ausência é o que ele carrega sempre. É... Poderia ser, mas no seu caso, não é. Não ligue para o que Drummond diz, por teimosia e pela falta de educação mesmo. Não dê a mínima... Porque essa ausência desmedida, que também tens, não é o que lhe faz infeliz.

(In)feliz. Mera questão de prefixo, parafraseando um certo perfil orkutiano. Eternos ciclos que a cada dia se tornam mais freqüentes. Você morreu no domingo, vagou pelo incerto segunda, terça e quarta. Quinta às 00:01 virou cinza e pó, espalhou-se ao vento e renasceu a mesma, nem melhor, nem pior como de costume. Se sente Deus? Para morrer e renascer assim, ao terceiro dia?! Bem, a questão toda não passa de teimosia. Até que um dia se canse de morrer ou de se matar por coisa qualquer. Mas negar? Renegue a quase tudo ou ao que, realmente, lhe faz falta. Já negaceou tanto, que mais uma vez não faria a menor diferença. Lembre-se da magnitude das palavras com prefixos. Com elas, você tem a liberdade de ser os dois significados... Uma lástima que, agora, não consigo fazer algum neologismo referente à palavra passional. Esta é a uma das únicas palavras que lhe descrevem e que infelizmente não possui prefixos. Oxe! Fique feliz...

Estive pensando nisso: passionalidade. A pergunta não é bem essa, mas se me permite reformular... Seria o tal motivo que lhe deixa infeliz, ser passional? Se for, tenho a solução para seus problemas por apenas uns discos de rock melódico medíocre, um Wellaton preto azulado, correntes, roupas rasgadas e unhas pretas. Procure arrumar um namorado emo! Ele vai te entender, melhor até mesmo do que eu... Sempre que você vier com suas metáforas de jardins, flores, passarinhos e blábláblás, o carinha certamente irá lhe contar das novidades do Good Charlotte ou do Simple Pan. Nessa hora, certamente você pensará: “Como eu sou feliz!”. Infame eu! Desculpe-me, mas não custa sorrir...

Luiza, procure limpar seus espelhos... O que vês está cada vez pior devido à poeira. Dãm. Espelhos são traiçoeiros. Seus sapos, seus castelos, seus príncipes encantados são o que os espelhos lhe mostram: uma imagem reflexa adulterada. Não diga que não sabia, e nem aceite meu conselho de negacear neste caso.

Enfim... Fique bem, tome seu remédio todos os dias, leve sempre blusa de frio para a faculdade e não deixe escapar suas projeções. Elas são verdadeiramente o que lhe faltava para arrancar o prefixo in.

“Do sonho de eterno fica esse gozo acre na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.”

Beijos, moça com a flor empunhada nas mãos.


Bira.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Desconfio que eu sou egoísta e sempre serei à contragosto. Minhas andanças entre os ares do que gostaria que fosse, termina com o que eu realmente não poderei ser. Eu saberia dizer sobre o que eu (talvez) não vou ser, se não sei porque sou? Hoje desconfio que sim. Não saber se algum dia eu irei dar frutos, basta-me para me arrastar ao chão, mesmo com o olhar solidário dizendo que ficará tudo bem. Eu sei que não ficará, e o “tudo bem” pareceu-me uma piada. Acho que sou, acho que é. E o que hoje, se desconfia ser um aglomerado que se multiplica desesperadamente poderá ironicamente impedir a minha multiplicação amanhã. A flor póstuma a crescer dentro de mim e as coisas ficarão bem? Tragi-cômico. Como podem ficar bem se, agora, elas não estão? E logo agora. O grande manipulador anda distraído demais. Saber que posso não ser. Ser nada nunca, e os meus nadas não servirão para o que lhes era destinado a ser. O canteiro encantado não passará de um jardim seco. Ser predestinada a colecionar porta-retratos vazios, bela surpresa! Não tenho sonhado muito em criar esboços saltitantes, mas confesso que a possibilidade de não fazê-lo me assusta, e assusta muito... O instinto natural do feminino, que antes não se fazia presente, hoje exala devido ao que me está por vir, nesse caso, ao que não está por vir. Os médicos deveriam parar de disparar olhares de conforto e começar a pesquisar os porquês de um esboço não poder nunca chegar à pintura merecedora de cópias. Quem serei eu, se não puder ser além de mim? Desconfio que não vou passar de um rabisco.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

O enterrado vivo
(Carlos Drummond de Angrade)

É sempre no passado aquele orgasmo,
é sempre no presente aquele duplo,
é sempre no futuro aquele pânico.

É sempre no meu peito aquela garra.
É sempre no meu tédio aquele aceno.
É sempre no meu sono aquela guerra.

É sempre no meu trato o amplo distrato.
Sempre na minha firma a antiga fúria.
Sempre no mesmo engano outro retrato.

É sempre nos meus pulos o limite.
É sempre nos meus lábios a estampilha.
É sempre no meu não aquele trauma.

Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre a mesma ausência.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Na última noite de samba, encontrei-me na boca aberta da noite. Boca que me mastigava, engolia-me, regurgitava-me. Senti seus dentes cortar-me, fragmentando o que antes foi porcamente juntado e colado. Usurpou-me o que movia, rasgou-me o peito. Cuspiu o que restava do meu corpo na cama a sentir as "novas-velhas" dores.

A boca aberta da última noite de samba trancou-me no éden temporariamente aberto que agora urge ser fechado. O único instante de abertura jogou-me ao abismo. Castelos arruinados.

Vomitado na cama, meu corpo lembra do antes lido: “É o amor e não a vida o oposto da morte” *. Na quarta-feira, sou sangue coagulado, cinza e nada. Sou pó a me juntar às sombras da noite que gritam, ensurdecendo-me, que é o amor e não a morte o oposto da vida.

*Frase daqui: http://www.corraeolheoceu.blogger.com.br

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Conto do velório

Domingo. Não se sabe os porquês de existir o dia de domingo. O mundo pára. A rua pára. A casa pára. E ela também quis parar. Consciente do que estava por vir, se vestiu, se maquiou e caminhou até o orquidário. Os olhos assustados dos demais moradores da casa a perseguiam, mas ela firme seguia em busca da flor. Pegando-a, voltou ao seu quarto. Trancando-se no seu mundo, ela retirou os lençóis da cama, retirou o colchão. Defuntos não precisam de conforto, ela pensava. A cama em madeira pura agora estava pronta para recebê-la. Ela ascendeu duas velas, uma em cada ponta da cama e deitou-se. Cruzou as pernas, juntaram-se as mãos ao mesmo tempo em que seguravam a orquídea laranja. Assim ela permaneceu, sem esquecer do sorriso póstumo de paz.
Passaram alguns minutos e subiram os irmãos para convidá-la para o almoço. Seus olhos estavam serrados, mas ela podia ver; eles estavam pasmos com a cena. Chegaram a aproximar dela e chegar a pulsação. Estava tudo em paz... Eles não entendiam. Ouviram-se passos rápidos e a chegada dos pais. A mãe, coitada da mãe, desabou acreditando realmente que aquilo se tratava de um velório. Ver um filho morrer, não é para qualquer um e essa mãe mais louca do que a moça pela primeira vez não entendeu o cunho da história e repetia insistentemente para que ela se levantasse dali. O pai, com o humor mais parecido com o da moça, foi logo soltando uma gargalhada. Ria, sabe-se lá se pela situação toda ou pela sensação de que, ela estava fazendo algo que ele sempre quis fazer, mas ser “o pai de família” não permitia. O pai ria, a mãe chorava e os irmãos estáticos. A mãe então resolve sentar ao lado da menina e conversar. Perguntava a pobre o porque de estar ali, parecendo uma defunta. A mãe não entendia. A garota era uma defunta e resolveu se velar, para tentar conseguir pelo menos alguns minutos de paz e seria inútil sair daquela situação de paz (inventada, mas de paz) e responder as questões da velha senhora. O pai sensato (ou mais louco do que a garota) pegou a mãe pelos braços e tentou explicar, com recursos lingüísticos escassos pelo susto, o que aquilo significava. Ele conseguia dizer somente que ela precisava ficar ali. E ela realmente precisava ficar ali.
Então, os atrevidos penetras de velório resolveram descer e almoçar como uma família normal faz dia de domingo. Depois de passar a tarde toda sem pensar em nada, só ouvindo vez ou outra, uma voz lá dentro dizendo que ela precisava agora inventar seu renascimento; ela resolveu se levantar... E sem saber os porquês dos domingos, ao menos ela sabe o que fazer para escapar da angústia de ter que vivê-los. E renascida, levantou-se e foi cantarolar pela casa “Quem vai pagar o enterro e as flores se eu me morrer de amores?”.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Post it a Deus

Exorcize essa angustia que me consome. Cega-me. Rouba-me o cais. Queime meus navios. Rasga-me o peito. Tira-me a claridade do dia, deixe-me com as sombras da noite. Leva-me, usurpe meus pensamentos. Faça-me racionalizar. Faça que meu sangue erre de veia de vez. Coagula-me... Junte os pedaços a fim de fragmentar-me novamente. Revire minhas gavetas. Exponha meus retratos. Fure meus discos. Corte meus cabelos. Dá-me ilusão, mas não me faça calar a primavera...

"I tried to find the logic logically.

I had a dream and I could not shake it.

I was standing up there naked."





Quantas faces verdadeiras se escondem por trás de fantasias neste baile? Quantos véus mais serão necessários retirar para encontrar o verdadeiro rosto?! São tantos e tão volumosos, perde-se. Quando avista olhos por trás de tanto pano, o toque não se faz presente. Tanto pano. Tantos olhos encobertos. Não desejar sentir o toque se não vir os olhos e almejar panos mais leves e mais claros seria como a infelicidade de negar uma dança. Apenas mais um desejo a construir o caminho principal; as corromper torrentes que afastam do fluxo certo. Ser guache, vestir-se normal em baile à fantasia. Ao menos uma face verdadeira: quimera...

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Não vês? A luz que incide sobre o cristal libertando
as sete cores para pintar as sete mil delicadezas...
Não ouves? Toca La valse d’Amèlie.
Pegue-me pelas mãos e dancemos.
A grande valsa suspira por nossos passos, não vês...



Vá! Torna-me banca de flores sem saber...

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Aproxima-se mais um carnaval, época de faz-de-conta. Tempo que as pessoas esquecem suas pequenas tragédias de lado e vão sambar. E mesmo com a minha reprovação, algo aqui dentro está a sambar. Dançando e cantando marchinhas, dando cambalhotas e se afastando cada vez mais do que era (ou se aproximando de tudo o que eu um dia desejei). Tive um sonho carnavalesco, com direito a mestre-sala e porta-bandeira meses antes do feriado propriamente dito. Bela roda de samba que deixou um rastro de saudade, um insuportável cheiro na memória e o infame molejo nos pés do que mora aqui dentro. Agora, eu que tanto neguei que sambaria novamente, sambo. Mas sambo sem música, sem estandarte... Sem mestre-sala. Faço companhia ao que zabumba esse coração e molejo sozinha porque é (e será por um bom tempo) época de faz-de-conta. Época de fazer de conta que não amo este samba e fechando os olhinhos pedir para que o inevitável desejo continue a sambar!

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

“Can’t you see that it’s just raining

There ain’t no need to go outside

Ain’t no need, ain’t no need

Can’t you see, can’t you see

Rain all day and I don’t mind







Ela saiu dos trilhos por anos (ou nunca tivera trilhos?). Vê-se com clareza: Ela não sonhava, ela delirava, a princípio. Excluía o outro, ou quase se excluía dos outros. Não havia necessidade de comprovar sua convicção a realidade, não se preocupava em fundamentá-la nem para si, nem para os demais. A idéia delirante brotava-lhe como um mundo novo, incrustada no velho interior, mesmo sendo autônoma dele. Ela saia dos temidos trilhos e almejava entender os porquês. Graças. Confrontada paradoxalmente com uma argumentação racional e lógica ao ritmo cardíaco acelerado do novo, ela se deixou convencer. Não alcançando (in) felizmente o caos completo; vê-se que ela não delirou, muito menos foi corrompida por uma idéia delirante. Desconfia-se que tudo não passou de uma formação deliróide, uma vida inteira. Era apenas uma formação deliróide e agora, ela está quase livre, quase...
Seja bem-vinda aos novos trilhos.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Tenho a clareza de quem está para morrer e a angústia do nada saber de quem está a pouco por aqui. Dessa linha tênue entre a vida e morte, entre a quimera e a realidade é que faço meus dias. Dias engajados em uma única árdua tarefa, conviver com o que eu verbalizo. Essa minha prolixidade resultando em nada. O desejo de escrever sobre o amor ainda permanece. Não o amor de beijinhos no portão, cinema às 16hs ou de medo de pai, mas o amor das cantigas de Tom e Vinicius, dos poemas de Drummond e sonetos de Pessoa. Quero cantar sobre o beijo esquecido, os carinhos guardados, os olhos encantadores e encantados. Não preciso que sejam reais minhas cantigas, nem tão delicadas minhas palavras; queria somente escrever um poema de amor sincero. Não só de amor simples e rotineiro, mas desse amor-quimera que eu guardo. Quero fazer viver esse sentimento no papel de um jeito que outros apenas leiam, desejando sentir a doçura do que eu amo. Mas eu não escrevo. A linha tênue pende cada vez mais para o nada e minhas palavras não ecoam.
Os ouvidos pedem:
"And as I lay me down tonight,
I close my eyes, what a beautiful sight
Sleeping to dream about you
And I'm so tired of having to live without you
But I don't mind.
Sleeping to dream about you and I'm so tired"

(Jason Mraz - Sleeping to dream)

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Escrevo porque continuo sem entender.Teimo em continuar a escrever para que os fatos façam sentindo. Quero escrever algo sobre o concreto e tudo o que sai são rabiscos. Deveria parar de escrever e desenhar. Teria mais habilidades com o pincel do que com a caneta, às vezes penso. O abstrato do pincel seduz, as palavras soltas no papel não. Mas prefiro o que não tem sentido, o que não seduz, minha realidade inventada que emerge no papel. Escreve, vai! Escreve, morena! Esvazia logo esse coração...


Psiu. Shiiiiih...
Silêncio.
O corpo moreno afunda.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Chove. Que fiz eu da vida ?


Chove. Que fiz eu da vida?
Fiz o que ela fez de mim...
De pensada, mal vivida...
Triste de quem é assim!

Numa angústia sem remédio
Tenho febre na alma, e, ao ser,
Tenho saudade, entre o tédio,
Só do que nunca quis ter...

Quem eu pudera ter sido,
Que é dele? Entre ódios pequenos
De mim, estou de mim partido.
Se ao menos chovesse menos!


(F.Pessoa, 23-10-1931)



Almas gêmeas, besteira!

Marina às sete da manhã.

Minha alma gêmea esteve tão perto essa manhã. Coisa de engarrafamentos e trânsito pesado do centro, enquanto eu e meu humilde possante, estávamos atrás da minha alma gêmea. Um ser imponente com seu cigarro em seu possante não tão humilde, quanto o meu. Em quais ruas ela estaria vagando até parar ali, naquele sinal às sete da manhã? Surpresa boa seria se seus caminhos fossem os mesmos que os meus. E aparentemente eram, mesmo que figurados. Acelerando para não perdê-lo de vista, ultrapassando outros possantes e alguns velhos pensamentos, esperando parear no próximo sinal. Ah, essa alma gêmea caberia exatamente para esse momento. Pena que ela não via que eu estava ali, pertinho, no carro de trás. Fecha sinal. Vai sinalzinho, fecha?! E o sinal fechou... o carro pareou. Do lado de lá, um cigarro nas mãos, óculos escuros e um sorriso estonteante. Do lado de cá, um olhar acanhado e um sorriso tímido. Não acredito, um belo sorriso foi respondido por um sorriso tímido. Tarde demais, o sinal abriu. Eu virei a direita. Ele arrancou. Então eu voltei para minha busca real por minha (próxima) alma gêmea, enquanto esta alma gêmea momentânea seguiu seu caminho... Como todas as outras.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Uma sala de visita de um hospital. Nosso lugar secreto. Nosso divã improvisado. Eu acendo um cigarro imaginário e trago-o juntamente a cada palavra deliciosa que vem ao meu encontro.Três mulheres unidas por uma magia. Olhares admirados com tanto devaneio. Três mulheres diferentes, três Marias em comunhão. Três ciganas dançando em meio a paredes e corredores pálidos. Três mulheres brincando de ser feliz. Ah, mágica tarde em um lugar improvisado. Mesmo com tanta dor, a doçura de saber sorrir... A tarde caiu sem perceber e ficará para sempre emoldurada. Amigas. Improvisadas amigas. Confiáveis amigas no nosso divã “Life Center.”

"Diga aí amigo... Como vai você??
Estou aqui contigo
Você também me vê
Às vezes sou seu clone e você é o meu
Não temos o mesmo nome
Mas nossa vida se perdeu
Em encontros e desencontros
Do mesmo sopro
Que atravessa eu e você
Se estou contigo
É porque estás comigo
E nós não podemos nos perder "
(Moska - Reflexos e Reflexões)

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

A. M. (11:55 – 04/02/1987): - Vai, Marina! Ser gauche na vida.
(Deveria ter sido assim...)

J., C., R. e F. (00:00 – 04/02/2007): - É big, é big, é big. É hora, é hora, é hora. Rá-tim-bum.

M.: - Ah, para quê se faz anos?
R.: - Para morrer, ué.
(Realmente...)

W.: - Continue uma mulher incrível.
(Triste é quando se perde a percepção de certas coisas... Às vezes, me odeio.)

M.: - Mais uma margaridinha...
V.: - O jardim é mais bonito todo florido.

T.: - A data da saída do casulo. (...) Entrépida Borboleta como centro do universo...
(Amém!)

Victor Hugo: “Nos olhos do jovem, arde a chama. No dos Velhos, brilha a luz.”

A.: - Ultimamente, desejo à todos uma coisa só: Amor, um grande amor.
M.: - Não, não. Obrigada.
(A fala de M. não aconteceu, mas foi cogitada.)

P.P.: - Pra você? Desejo um – está me ouvindo? – um só, ouviu?
M.: - Tomarei jeito esse ano, te prometo!
(A fala de P.P. será anotada no caderno para poder ser vista todos os dias.)

Miguel Torga: “Mais um ano. Mais um palmo a separar-me dos outros, já que a vida não passa de um progressivo distanciamento de tudo e de todos, quase a morte remata.”

H.: - Hoje sou fogo de artifício brincando de estrela no céu, sou as bolhinhas do champagne, o dedão furtivo no recheio do bolo - lambida esquiva... sou cheiro de festa exalando das flores. Sou a fé derramada sobre os pedidos da vela apagada, a esperança emprestada... sou travessura encantada. Sou música que atravessa o salão em rodopios... pra sorrir em volta de ti. (...)
(“Deus está nos detalhes.”)



M. (23:59 – 04/02/2007): - Últimos segundos dessa década. Resultado da autópsia: um estômago cheio de poesia e um coração com o dobro do tamanho. Adeus, pitititinha. Hora das honras e homenagens. Trás a tesoura, “corta aqui oh”, para amanhã nascer mais e melhor, bem melhor...

sábado, 3 de fevereiro de 2007

“Hortelã dos chás, dos beijos verdes
doida flor sem ter qualquer razão de ser
lógica das novas, das coisas novas
dos olhos verdes de quem (não) vê”





De longe se pode ver a espreita da oportunidade única. Como se comunicar imparcialmente quando se tem nas mãos um sentimento que não está com cara de que vai passar como essa chuvinha veranista?! Palavras... Palavras... Palavras. Antes não saber o que é, para não ser tentada a falar sobre. Queria ter a petulância de fazer poesia, seria mais fácil e menos constrangedor. Coração leviano. E eu que queria tanto, que tentei tanto e com tantos, encontrar o que agora sinto por alguém que nunca saberá (ou já sabe, ou não quer saber, ou alguma coisa que eu também não sei).
Mesmo com tanto passado, não saber como agir agora soa ingenuamente natural. Amor platônico aos vinte anos, coração vadio. Pensamentos usurpados, olhares longes e sorrisos aos ares. Arriscaria que isso é novidade demais e eu não vou conseguir. Nem seguir eu vou, nem ficar parada aqui, agarrada naquela tarde. Se ao menos eu conseguisse uma daquelas miradas que sem dizer nada, dizem tudo; mas aqueles belos olhos me botam um tremendo medo. Ah, coração inocente constrangendo o corpo que domina, revelando seus segredos...
Ah coração...

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

No auge de meu feminismo e indignação, resolvi procurar o significado de confiança:

Definição de confiança*:

s. f.,

segurança e bom conceito que se faz de alguém; convicção do próprio valor; firmeza de ânimo; crédito; intimidade, familiaridade;

pop.,

atrevimento;audácia;insolência.

“Atrevimento, audácia, insolência”. Está tudo explicado. Faz sentido como as pessoas atualmente têm se comportado. Confiar em alguém (especialmente em charmosos pares de calças) virou a maior audácia de todos os tempos. Mulheres insolentes que ainda conseguem fazer árdua tarefa. Dificílimo definir quem é o culpado quando a confiança se transforma em desconfiança. Gramaticalmente um prefixo apenas que molda toda uma conduta. Confiar em partes seria a solução? Categorizar as pessoas. Confio em José nisso, mas para aquilo não. Já João só serve para isso...

Fácil pensar assim. Confiar desconfiando que a qualquer hora virá uma decepção. Pior ainda quando é negada uma ajuda. Diploma na parede não engrandecerá indivíduo algum, ser chamado de Doutor. Médicos! Deveria odiá-los mais do que aos homens. Ainda mais se forem doutores deste tal gênero. Arght! A arrogância de confiar no saber, “convicção do próprio valor”. Céus! Que valor? Valores que fazem desconfiar que ao dar uma palavra amiga, um ombro, ou apenas escutar seria se expor, se colocar no mesmo patamar. Deve existir alguma matéria acadêmica que explique tal autoconfiança exacerbada, afastando até mesmo os bons amigos.

Ah bons amigos que podemos confiar. O que seria confiar por sua vez?

Definição de Confiar*:

. tr.,

entregar com segurança alguma coisa a alguém;dar em depósito;dar a saber, comunicar;transmitir;

v. int.

,ter confiança em;acreditar;ter esperança;

v. refl.,

fiar-se;entregar-se.


"Entregar-se com segurança, comunicar". Gramaticalmente fácil. Não sei se me revolto contra o português ou se isso seria apenas mais uma faísca para essa revolta contra esses projetos de homens. Confiar. Palavra vinda da expressão “ter fé”. Apelaremos para reza para ver se algum dia esses seres estranhos melhoram ou que honremos toda a queima de sutiãs e paramos de chorar por umas peças dessas. Ah faça-me o favor...

*Definições por Língua Portuguesa On-Line (http://www.priberam.pt/dlpo)

Obs:Não odeio os homens assim, ao contrário. Tenho fé que vou encontrar um serzinho abençoado... mas, por favor, não mexam com minhas amigas confiáveis, porra!

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

“Marina morena Marina você se pintou”



Fiz um esboço de tudo o que não entendo e talvez nunca entenderei guardei na mala e fui... Hoje volto com a tranqüilidade de entender que não entendo ou nunca vou entender. O medo era um presságio das proporções que os sentimentos tomariam. Lutar contra ou a favor, não mais importa. Não são rosas, nem tiriricas ou capim, mas talvez seja uma nova qualidade de flor ainda não catalogada. Uma jardineira de primeira viagem, não mais... Volto com a companhia de Drummond, que zombou da minha inexperiência, mas escutou atentamente meus lamentos poéticos e sorriu com minha identificação com cada versinho romântico. O que o álcool e a noite não fazem? Comovida como o Diabo, percebi que quis errar, mas dessa vez acertei em cheio. Entender isto, sim é complicado e não acabou, por enquanto. Ao menos consegui dormir... Sonhar não era preciso. Bastava-me dormir. E isso, eu consegui! Volto repleta de mim e feliz, com o auto-retrato mais realista já feito...

domingo, 21 de janeiro de 2007

Aos merecedores: sorrisos

Você sai a rua e na esquina alguém lhe cumprimenta. Alguns sorririam de maneira reflexa e graças à diversidade, outros apenas seguiriam seu caminho e deixariam o sorridente sem a sutileza labial correspondente. Fique preocupado se estes outros forem conhecidos... A situação torna-se insuportável, restando ao ignorado alguns questionamentos sobre os porquês da indelicadeza.

A maior dádiva para o “sorridente” seria continuar a fazê-lo após algumas experiências frustrantes e seguir sem deixar que a indelicadeza consuma com a delicadeza de tal gesto. Sorrir sem pretensões é um dom, e como todo dom poucos conseguem possuí-lo. Resta somente aos “distraídos sorridentes” continuarem a busca da delicadeza, por mais que árdua e solitária que ela seja. Resta-lhes também não temer pelos sorrisos escassos, assim como desanuviar os pensamentos dos porquês em questão.

Nessa busca incessante de correspondência, os amigos sorridentes se perderiam caso depositassem seus sonhos e/ou expectativas nos distraídos merecedores de sorrisos. Surge desta busca (tanto pelos “sorrisos-reflexos”, quanto dos porquês dos “não-sorrisos-reflexos”) um questionamento: seguir o caminho sorrindo; ou desfazer lentamente o sorriso, virar-lhes as costas e pensar se tal busca é realmente válida.

Manter-se no caminho sorrindo desesperadamente poderia ser uma estupidez tamanha e os ganhos viriam da insistência, que claramente não possui créditos. Então, fica imposto o segundo caminho. Pensar, pensar e repensar, tendo como companhia outros não correspondidos. No fundo, a esperança sempre irá fazer companhia e com sua preciosa ajuda as respostas surgirão. Basta ter calma suficiente para deixá-las surgir naturalmente e se possível (mesmo sendo improvável) não interromper os esboços de sorrisos necessários à maquiagem de cada dia.

Ah, algum dia. Em algum dia, alguém lhes sorrirá antes mesmo de esboçarem qualquer gesto delicado com os lábios. É realmente uma pena que, por ora, as reflexões fazem os músculos ficarem enrijecidos. Ah... uma pena!

Obs.: Afasto-me desse mundo que eu criei. Sigo em busca da paz merecida na esperança de algum dia ser merecedora dessas gentilezas...

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

“É, Deus,
parece que vai ser nós dois até o final”


Essa ausência desmedida, punição divina. Deixando-me em comunhão com pior dos sentimentos. Medo. Meio sorriso para esconder o que por dentro está tomado por ele. Chego a ter medo até mesmo de temer. Adiantaria não ter? Temeria da mesma maneira. Reluto enquanto posso. É mais forte. É o mais forte... Ausência, silêncio angustiante.
Pego-me relutando em não pensar e penso... Ah, comédia de final trágico. Ausência de quê, Deus? Não tive nada, não pude ter nada. Esse manipulador aí de cima deve ter tanta raiva de mim... Nada justifica. Justificar o que, Deus? Nem vivências eu tive. Os relógios pararam daquela tarde que dura os restos dos dias até essa maldita noite. Cala-me, por favor. Aquieta-me o espírito. Dê-me um pouco mais, Senhor. Dê-me entendimento... O que silencia a angústia, eu não entendo. Eu não vou entender. Eu tento. Eu tento. Eu tento. Amém.*

* perdoe-me Dona Lispector...


"Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas;
Apenas as mesmas com novas vestimentas!"

(Shakespeare)

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Free and free

Verão - mar - onda - vem - vai - Ma - mar de longe - Mari - Marina!



"See I'm all about them words
Over numbers, unencumbered numbered words
Hundreds of pages, pages, pages forwards
More words then I had ever heard and I feel so alive"

Jason Mzar - You and I both


segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Carta a minha consciência

Diria que hoje chove em Belo Horizonte. Caso assim dissesse, você acreditaria? Bem, digo para não acreditar, pois o sol vem calmo nos visitar algumas vezes ao dia. A única chuva que não cessa nunca é essa sobre a minha cabeça. Exatamente essa dos desenhos animados que ficam soltando raios e trovões acima do meu pobre pescoço. Diria mais, essa chuva que me acompanha seria de sua autoria.

Minha cara Consciência, analiso cada detalhe e vejo que queres desprender-se de mim lentamente. Por que fazes assim? Assumo que em nossa relação passional resolvi tantas vezes não ouvir o que dizia, mas assim o fiz para amenizar seus efeitos. Não! Não diga que sempre fui passional e teimosa. Não adiantaria mesmo, nunca assumiria isso para você (ou para ninguém). Mas diga-me, também partilha de tal sentimentalismo como o meu, não é? Então porque me abandona tão lentamente? Chega de coisas pequenas. Caso seja para me abandonar, que assim o faça de uma vez. Nada mais de dar voltinhas em torno do acaso, deixando-me assim... digamos, confusa. Não vale a pena, desprender-se de mim somente às vezes. Ou fica por aqui ou pula fora. Um ultimato vindo de mim, não é a coisa mais válida que poderia fazer, assumo. Mas é o que deve ser feito, por ora.

Acaso? Por um acaso me enchi de sorrisos, vesti aquele vestido rodado e excedi os limites do aceitável. Lutar contra (ou a favor de você) está sendo doloroso. Penso que, deveria lhe entregar suas coisas, pegar a tesoura e cortar esse fio que ainda me liga a você, minha querida Consciência. Talvez devesse aceitar sem lutar/sem sofrer essas noites pensativas, essa embriagues repentina de tudo o que me faltava. Momentos, nos quais, você simplesmente some, deixando-me com minha coisa estranha (e ao mesmo tempo maravilhosa) que não sei mencionar como é (talvez por não saber, ao certo, o que é; ou por medo de entregar-me ao incerto que tem domínio sobre mim). Deveria aproveitar tais momentos de sua ausência e trancar-te do lado de fora. Seria muito precipitada se o fizesse? Talvez... Essa passividade me rende coisas que você não tem rendido. Bastava-me uma noite de sua companhia para relembrar como é bom ter a cabeça (ou o coração?) no lugar. Assim como me bastam sorrisos, mesmo que utópicos.
Digo que estou absurdamente consciente de tudo, de suas ausências, de sua presença repentina. Mas confesso... Apaixonei-me pela loucura. Agora não há mais espaço para vocês duas aqui dentro. Tal decisão cabe (mesmo não cabendo...) a eu tomar. Sendo assim, está dado o ultimato. Vamos ao litigioso ou conseguimos uma separação amigável?

"O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar?
Por que todos os risos vão desafiar?
Por que todos os sinos irão repicar?
Por que todos os hinos irão consagrar?
E todos os meninos vão desembestar?
E todos os destinos irão se encontrar?"
(Chico Buarque e Milton Nascimento - O que será?)