terça-feira, 26 de junho de 2007

- E esse sorriso?

Eu o vi. Em uma seqüência numérica, traduzida em cores, eu o vi. No mesmo instante que o vi em cores, eu o vi dentro de mim. E ele estava lindo, como sempre. No olhar, havia algo que eu ainda não sei, mas que transforma. Transforma tanto e tudo, que eu esqueci dos transtornos desses dias, das amolações gratuitas, da insistência das outras peças que já se foram e não se encaixam, aqui, mais. Esqueci, também, do quanto neguei o que sentia quando o via, assim, gélido; e entendi: ele estava paralisado no tempo real, mas vivo dentro da minha realidade inventada. Não como as outras peças que duraram tempos. Não... Ele, realidade de dia singular, viverá uma vida inteira aqui dentro. E, é isso. Ele sempre vai estar vivo no meu mundo, porque no silêncio dos dias – e da vida – nos comunicamos, mesmo sem ele saber, e isto basta. Basta saber que há algo naqueles olhos que revive qualquer cor pálida. Eu o vi: uma explosão de cores traduzidas numa única e simbólica cor. Ah! E ele sequer sabe disso... Mas eu o vi – lá fora e aqui dentro – e senti meu corpo respirar, novamente.

- Não vai responder, não? Você não sai desse mundo, hein, Luiza?

segunda-feira, 25 de junho de 2007

reminiscência

"Well I can't explain why it's not enough, cause I gave it all to you.
And if you leave me now, oh just leave me now...
It's the better thing to do. It's time to surrender, It's been to long pretending.
Theres no use in trying, when the pieces don't fit anymore..."

... and the pieces don't fit here anymore.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Dois meses arábicos


“Vem, me dê a mão, a gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá desse quintal era uma noite que não tem mais fim”

Não me assustaria se em meio ao latim, alguém me lesse inteiramente, e é isso que busco. Alguém que me leia por completo, seguindo minhas reticências; necessito que tome por leitura minha existência, não o ser monte-de-moléculas Marina. Quero ser livro denso, língua mãe, ser devorada por olhos, mãos, boca, corpo na sua função verdadeira: viver. Faltou-me liberdade! Laçaram-me a alma pela pior forma, prendendo-me entre as mãos delicadas. Não posso ser pássaro preso, nem para curar-me asa quebrada. Hoje, recruto osteoclastos para reabsorver cada mg ósseo que me resta, transformar-me em pensamento, agarrar-me à dialética e abstrair do certo que “traria” felicidade. Finda o tempo de ser o que não sou, de amar o que não amo, de ser sombra e, por não ter sido lida, ter que me mostrar calor. É moça, hora da apoptose das células que eram de qualquer um, menos suas.

“E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?”

E, enfim, reticências...

domingo, 17 de junho de 2007

Nunca se teve um inverno tão rigoroso, e nunca se quis tanto que o sol enfeitasse os dias. Se fechar dos olhos foi uma opção para se proteger do vento frio, que o abrir agora aconteça, pelo brilho dos céus. Ela deseja, mais do que podem imaginar, ser cores deste sol. Todas em uma só, e voltar a vida, assim, em flores. Será perder-se novamente por volição? Será da vida isso: mudanças de estações do ano, de luas e de sóis... Será, Luiza?


O que se guarda em caixa de delicadeza, independente na nova estação, são suas sempre-vivas, infinitas enquanto durem. Deixa estar... posto que são sempre vivas.

sábado, 9 de junho de 2007

"Moça, olha só o que eu te escrevi..."


Das estrelas via-se um mundo sem cores. Via-se vidas opacas, jardins secos, caixas vazias. Renovar tudo, o grande manipulador resolve. Colocou então no mesmo caminho duas sonhadoras. E uma flor magnífica, cresceu devagar...

“É preciso força pra sonhar e perceber
que a estrada vai além do que se vê”


Surgiram afinidades, projeções, apertões virtuais. Dela ganhasse o melhor afago, o apoio incondicional, a cara a tapa em busca do que é nosso de direito. Direito. Entre tantos homens, tantos livros, encontra-se junto à ela, um ser de barbas brancas que lhes dá licença para alterar qualquer escrito. Licença poética da vida! È isso! Ela tem licença poética para alterar qualquer pedaço de ser, de tocar fundo, de espalhar pozinho de pirlimpimpim e deixar tudo branquinho... Juntas inventam-se histórias em quadrinhos. São Batman e Robin em busca do terno. E, quando o tempo simplesmente pára, com ela consegue-se leveza suficiente para que, com apenas um sopro (de vida), ele volte a andar. Assim como quando o mundo insiste em desafiá-las. Ela ternamente resolve dominá-lo através dos sonhos de laboratório. Às vezes, num deslize, faz-se cada coisa, Pinka! Às vezes, surgem idéias brilhantes e doces, Cérebro! Tão cérebro que em dias nublados ela, docemente, grita:
- Hannibal! Coma o indelicado!
E depois do banquete, ela sorri, e saltita pelos jardins e não dorme. Proteção, doninha... Proteção!

“Sei que o vento que entortou a flor passou também por nosso lar e foi você quem desviou
com golpes de pincel...”


Ela possui o poder de saber quando tudo está sem cores. Nesses dias, ela vira magia. Cigana a dançar, e em dois minutos têm-se histórias incríveis com todos os retratos em preto e branco... Ai de quem nunca teve bolha de sabão! Ai de quem nunca rasgou o coração! Ao lado dela, o peso das decepções diminui, a vida fica terna, doce, colorida, florida na medida certa. E descobre-se que a medida certa é uma só. Uma única coisa passional e branca. Alva de alma. Orquídea branca, mãe, amiga, companheira de sonhos. Menina flor, sortuda! Eu, (245 vezes) sortuda! Duas crianças que, agora, voejam longe. Vão de encontro ao céu, e, ficam a observar o mundo sem cores lá de cima, do esconderijo seguro.

“Eu sei, é o amor que ninguém mais vê. Deixa eu ver a moça... Toma o teu, voa mais, que o bloco da família vai atrás!”

Eu, sem palavras para agradecer!

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Do sagrado construto

"O monstro sagrado morreu: em seu lugar nasceu uma menina que era sozinha"
(Clarice Lispector)
O rosto não reconhece mais. O que é divide-se em duas máscaras que não se refletiam no espelho de ontem. Uma ri, entorpece em líquidos de felicidade e traga fumaça doce. Deixa lábios com gosto de frutas e beija o que é apenas a malignidade do desejo de ser feliz. A outra, na volta do barco, tem peso nos olhos, estômago poético e consciência escura. Pinta-lhe no corpo a dúvida do não saber o porque do que agora se concretiza, e mesmo assim brinda com o acaso. Nas esquinas, as duas encontram-se. Resta-lhe se embebedar de passado e se matar no presente. Ambas não são ela, mas ela é ambas momentaneamente. Não sendo o que algum dia se fez, vira o que não tem governo. O que se mata hoje, alegra-se amanhã. Ela não é mais quem os seus costumavam acreditar que fosse. Imagem inversa, agora duas, e, em prece pede a Deus para não interiorizá-las. Ah, ela não é nada disso.

sábado, 2 de junho de 2007

Das necessidades

Quero palavras. Suplico por mais, muito mais. Mas não de qualquer um, quero as minhas. Quero poder fazer com que elas fluam da tinta para o papel. Quero esforço mínimo, quero leveza. Tirar os pés do chão, colocar a caneta na folha e ir, sem pensar, sem penar. Sorriso leve, dias de sol e frio. Quero cidade histórica. Quero história com começo, meio e fim. Sim! Pode ter fim, tendo começo e meio... De volta a prolixidade, eu quero. Eu preciso das palavras, mais do que das imagens. Preciso das letras, preciso encontrar em lugar perdido, encanto. Eu quero entrega. Quero vida inteira, quero doação extrema. Quero enraizar, crescer, florir. Quero conjugar todos os verbos. Eu preciso! Peças que se encaixem, eu preciso, simplicidade! Eu quero... E, eu preciso tanto, tanto, tanto de mim.

Quero também: James Morrison – Wonderful World

“And I know that it's a wonderful world
But I cant feel it right now,
I thought I was doing well but I just want to cry now,
Well I know that its a wonderful world from the sky down to the sea