quarta-feira, 30 de julho de 2008

"(...) como um segredo que cai do sonho.

Depois, abri as mãos, — e perdeu-se.




Agora, creio que vou morrer."

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Oi, eu sou esquisita e tenho um potencial imenso para deixar tudo de perna para os ares. Eu bebo, choro e sorrio ao mesmo tempo, às vezes grito, mas raramente falo pouco. Sou prolixa e consigo escrever ainda mais. Tenho uma Olivetti verde. Para os nascidos no século XXI, Olivetti é uma máquina de escrever. Eu costumava escrever usando-a, era mais prazeroso quando eu precisava rasgar o que havia escrito. Raramente volto a ler o que escrevo. São momentos tão íntimos que não merecem mais do que um momento de atenção. Eu nunca coloco meus escritos onde exponho claramente minhas outras coisas. Uma questão de mania, apenas mais uma, assim como roer todas as unhas até o advento de unhas postiças para meu mundo postiço. Adoro pintura. Pintei um único quadro aos dez anos de idade, um marinheiro. Minha mãe ainda o guarda e eu ainda amo pintura. Só não arrisco mais... Sim, também desisto facilmente. Empolgo e desempolgo em um piscar de olhos. Olhos míopes, o pior dia da minha vida foi devido a eles; não exatamente a eles, mas aos óculos que usava. Eles eram coloridos como metade dos meus dias: vermelhos. Mas, eu bebo, choro e rio ao mesmo tempo, e geralmente, perco coisas, pessoas, amuletos; nesse pior dia da minha vida, perdi meus óculos vermelhos. Tenho comigo que eu bebi suas hastes até que a necessidade de ver as pessoas na rua desaparecesse. Hoje, não uso mais tais lentes, prefiro não ver o que a maioria vê. Enxergo do tudo meu jeito. Não gosto de perder. Escondo boa parte do jogo, a outra restante, não vejo. Não gosto de dias ensolarados e pessoas efusivamente felizes. Felicidade, então, é o que, certamente, poupou-me o pior dia da minha vida, como registrei, bêbada, em minha Olivetti verde e depois, calmamente, chorando e sorrindo rasguei como quem apenas sente um cansaço imenso diante do nada. Olha que havia muito ali, muito preto no branco, poucas cores e a ausência de saudade. Sou ausente: de mim, dos outros, da ausência. Achar-me, ou explicar-me, é ver metade de um jogo e negar a outra (já disse?). Colorir e descolorir. Empolgar e desempolgar. Ousar e recuar. Dualidades instantaneamente mutáveis. Não quero ser muito importante, mas quero fazer uma descoberta intelectual marcante. Não espero muito da vida, nem quero me vender, mas tenho um gosto acentuado por situações efêmeras. Mudo de opiniões (minhas...) facilmente. Sou teimosa, voluntariosa, orgulhosa e romântica. Não tenho paixões, vivo de amores, a escrita, por exemplo, até certo ponto. Pronto... até aqui.

Se pudesse, rasgaria esse texto. O delete não é tão charmoso quanto o desequilíbrio transbordando pelo cansaço de mudar tudo para continuar como antes. Ponto.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Eu vi e quis ver. O que eu vi, só eu sei. Só eu temi pelo que vi e senti... Defendi a mim com palavras ásperas que não passam de argumentos para eu não me entregar. Neguei, relutei em dizer que não vi, quando via, sim, algo diferente. Demorou tanto para concretizar, somos filhos do acaso. Entre tantos desencontros por que não? Existe um mundo tão vivo do outro lado, algo novo e tão diferente dessas minhas tempestades.

Da necessidade que dizia, fiz procura, sim. Procurei e procurarei, pois tenho fé. Minhas lentes míopes, desbravadoras de clarezas e escuridões, farão minha travessia, mas não as deixarei ser o meu fim. Se pudesse confessar, diria que beijei-lhe a testa, e o que previ foi a minha fraqueza ao pensar em desistir. Em oração deixar-lhe sem mais. Confessaria também que nada se moveu, realmente; havia suplicado por algo errado: mão única, sem pensar que é uma exigência e, amor exigente em qualquer esquina faz morada. Não! Se tiver que ter fim, terá quando for a hora exata (talvez agora após essa bela demonstração de fraqueza).


Mudo de discurso porque dói-me ser assim, mas sendo-me o jeito é aceitar e tentar acertar nas mãos de cuidados. Deixa... deixa que aos poucos esse adulto triste e sozinha vai embora, na brisa... Deixa... o silêncio traduzir o que eu não conseguirei explicar. Deixa serenar... eu estou a procura e eu vejo, tendo ânsia pelo eterno.



Shhhhhhhhh. Tem algo acordando aqui... Veja!

segunda-feira, 14 de julho de 2008


Eu não estava procurando, mas vi. O que vi? Não. Estou cega de organização. Mas eu vi. O que eu não estava procurando quando vi é, na verdade, o que nego. Hoje, nego através do “não estar procurando”. Por que estava procurando? Sabia bem como era ter, e uma vez sabido, vagaria atrás do correspondente. Eu já sabia e isso não é exatamente uma procura, até mesmo porque eu não procurava, mas vi. E vendo não posso mais me cegar. Reluto, dizendo que não vi? Bobagem. Não vi, mas tenho uma imagem colada na retina o que inconscientemente vai me forçar: Pronto!

Era possível. Mas, eu fiz que não. Essa espera por correspondência não é procurar; é uma necessidade. Tenho miopia e minhas lentes estão cada vez mais espessas. Contudo, venho abrindo passagem no escuro. Não quero buscar iluminação. Tenho lentes, colocando-as frente à escuridão, consigo desbravá-la; escuridão alguma é mais espessa que minhas lentes míopes. Não há necessidade de luz, ao passo que ao confrontar a luz, também com a espessura das lentes, seria constatar sua fragilidade: o claro cega e, da mesma forma que o escuro, pode ser facilmente vencido pelas lentes. Tenho medo conhecer essa invencibilidade: desorganiza-me. Busco correspondência, não procuro desvendar. Como é possível isso? Mesmo sem procurar, ver através de lentes míopes que querem correspondência. O que fazer com o a possível imensidão eterna que dizia, se sei do claro e do escuro e não pertenço a nenhum? Dessa organização que me assusta deve sair um novo modo de me explicar. Sim. Explicar, porque estou longe de sentir a vida. Há prazos para o meu sentir, eu vi! Soube que ia terminar, quando eu começasse a conhecê-lo. Quis agarrar-me àquele fio de sentir que eu começava a detectar, inutilmente. Eu o veria e ele teria fim, pois eu havia procurado. Eis o fim. A procura do que eu não tenho controle é o fim? Talvez a busca... Neste ponto, novamente, não me valeria claridade ou escuridão alguma: vou chegar a realidade somente com a minha morte, antes estarei em sonhos. E preciso de uma nova vida inventada porque eu vi, mesmo cega pela organização; é tão finito, é tão frágil e inanimado.

Beijei-lhe a testa. Confesso: rezei. Suplicando, pedi que movimentasse algo para que eu pudesse ter certeza que não havia tido aquela previsão. Uma antevisão do fim abdicava a chance de me tornar mãos de compreensão. Beijei-lhe a testa em oração, para que se eternizasse em mim algo próximo a algum sentir. Nada se move, é finito - não me assusta ou me faz querer mais. Não me toca. É frágil e passageiro. Nem em oração mudou o que vi, mesmo sem procurar. Não vendo felicidade, via, ao menos, momentos de alegria instantânea pela qual, agora, vou me tornar amorfa. Vou me desorganizar, por algo que não me é necessário? Na organização estou tão longe dos limites que me farão sustentar esse “entendimento” amanhã. Serei um quê qualquer de vento que não dará forma, mas que me deixará mais delicada.

Vou chover. Tenho admirado o estar vivo inumano e sorrido para o eterno que acabo de tornar passageiro da matéria. Se me chegasse vida feita para ser amor e compreensão, aceitaria e a deixaria fazer morada. Mas não sendo, não posso tal permissividade. Veja, busco o durável para explica-me, já que não consigo não me conhecer.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O mundo dentro, em mim.

Escrever, no caso, para adultos, é a forma de se comunicar com a legião estrangeira que nos habita ao fundo, já diria Lispector sobre chegar ao íntimo do homem com as palavras. Na impunidade do anonimato e na habilidade em tocar fundo, assim como as palavras, acredito que há, também, o sexo. No esfregaço dos corpos, no molhado do suor, nos movimentos tenazes de lábios, línguas, mãos, transborda-se o mais profundo do homem: toda sua animalização, instintos de sobrevivência, ali, jogados em vinte minutos de danação terrena. O que nos toca fundo, transborda-nos. Deixamos o Superego das máscaras sociais para deleitarmos com tudo o que o Id nos presenteia. O sexo e as palavras, mecanismos dúbios de gratificação e punição singulares. Ah! Certamente não há nada que se compare com a sensação de gozo da conclusão de alguma produção textual ou dos desejos. Sensação seguida de uma morte momentânea, onde se quietam as bocas e mãos, corpos e mentes; um hiato até que a necessidade de se desfazer das meigas caras do dia-a-dia fizer-se insuportável; despindo-se, assim, dos recalques. O toque do outro, compatibilidade de pele, do mesmo sabor nas bocas e o brincar magistral das mãos é a ponte ao corpo nu, à matéria pura - essência animalesca que fissura; e que, sem controle, nos leva ao que somos. Se escrever é arte de se encontrar, e arder em par é um encontro ainda mais sublime... o que somos?

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Do retorno. Do que move. Do que constrói.

"Amar é metade de crer."
(Victor Hugo)

O impossível mais uma vez nos salta aos olhos. A força nascendo de onde menos se espera, do frágil, transformando banalidades em fé. Ou ao retorno a fé, ou a nunca ter perdido a fé nesta dualidade (sim, edipiana – justificaria muita coisa, já pensou?) Mais uma vez o cuidado potencializa a existência. A espera deixa seu caráter ansioso e passa a um estar certo, às vezes, reduzido em “tem que vai”. E vai! Porque a normalidade amarga envelhece. Porque não seria tão prazeroso se não fosse improvável. Porque a instabilidade é caleidoscópica e a cada minuto uma nova explosão de sentidos nos salta aos olhos. A única premissa ad eternum é amar nos detalhes, como ninguém mais sabe (claro, como o impossível, às vezes, se realiza... Quem o conseguir será, também, de um sentimento inominado). Cuidado simples diário que torna o simplório um andarilho, que depois deste encontro, da junção dos nossos umbigos, está muito, muito, muito longe de nos alcançar.

"Os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace."
(Victor Hugo)