segunda-feira, 14 de julho de 2008


Eu não estava procurando, mas vi. O que vi? Não. Estou cega de organização. Mas eu vi. O que eu não estava procurando quando vi é, na verdade, o que nego. Hoje, nego através do “não estar procurando”. Por que estava procurando? Sabia bem como era ter, e uma vez sabido, vagaria atrás do correspondente. Eu já sabia e isso não é exatamente uma procura, até mesmo porque eu não procurava, mas vi. E vendo não posso mais me cegar. Reluto, dizendo que não vi? Bobagem. Não vi, mas tenho uma imagem colada na retina o que inconscientemente vai me forçar: Pronto!

Era possível. Mas, eu fiz que não. Essa espera por correspondência não é procurar; é uma necessidade. Tenho miopia e minhas lentes estão cada vez mais espessas. Contudo, venho abrindo passagem no escuro. Não quero buscar iluminação. Tenho lentes, colocando-as frente à escuridão, consigo desbravá-la; escuridão alguma é mais espessa que minhas lentes míopes. Não há necessidade de luz, ao passo que ao confrontar a luz, também com a espessura das lentes, seria constatar sua fragilidade: o claro cega e, da mesma forma que o escuro, pode ser facilmente vencido pelas lentes. Tenho medo conhecer essa invencibilidade: desorganiza-me. Busco correspondência, não procuro desvendar. Como é possível isso? Mesmo sem procurar, ver através de lentes míopes que querem correspondência. O que fazer com o a possível imensidão eterna que dizia, se sei do claro e do escuro e não pertenço a nenhum? Dessa organização que me assusta deve sair um novo modo de me explicar. Sim. Explicar, porque estou longe de sentir a vida. Há prazos para o meu sentir, eu vi! Soube que ia terminar, quando eu começasse a conhecê-lo. Quis agarrar-me àquele fio de sentir que eu começava a detectar, inutilmente. Eu o veria e ele teria fim, pois eu havia procurado. Eis o fim. A procura do que eu não tenho controle é o fim? Talvez a busca... Neste ponto, novamente, não me valeria claridade ou escuridão alguma: vou chegar a realidade somente com a minha morte, antes estarei em sonhos. E preciso de uma nova vida inventada porque eu vi, mesmo cega pela organização; é tão finito, é tão frágil e inanimado.

Beijei-lhe a testa. Confesso: rezei. Suplicando, pedi que movimentasse algo para que eu pudesse ter certeza que não havia tido aquela previsão. Uma antevisão do fim abdicava a chance de me tornar mãos de compreensão. Beijei-lhe a testa em oração, para que se eternizasse em mim algo próximo a algum sentir. Nada se move, é finito - não me assusta ou me faz querer mais. Não me toca. É frágil e passageiro. Nem em oração mudou o que vi, mesmo sem procurar. Não vendo felicidade, via, ao menos, momentos de alegria instantânea pela qual, agora, vou me tornar amorfa. Vou me desorganizar, por algo que não me é necessário? Na organização estou tão longe dos limites que me farão sustentar esse “entendimento” amanhã. Serei um quê qualquer de vento que não dará forma, mas que me deixará mais delicada.

Vou chover. Tenho admirado o estar vivo inumano e sorrido para o eterno que acabo de tornar passageiro da matéria. Se me chegasse vida feita para ser amor e compreensão, aceitaria e a deixaria fazer morada. Mas não sendo, não posso tal permissividade. Veja, busco o durável para explica-me, já que não consigo não me conhecer.

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