domingo, 21 de janeiro de 2007

Aos merecedores: sorrisos

Você sai a rua e na esquina alguém lhe cumprimenta. Alguns sorririam de maneira reflexa e graças à diversidade, outros apenas seguiriam seu caminho e deixariam o sorridente sem a sutileza labial correspondente. Fique preocupado se estes outros forem conhecidos... A situação torna-se insuportável, restando ao ignorado alguns questionamentos sobre os porquês da indelicadeza.

A maior dádiva para o “sorridente” seria continuar a fazê-lo após algumas experiências frustrantes e seguir sem deixar que a indelicadeza consuma com a delicadeza de tal gesto. Sorrir sem pretensões é um dom, e como todo dom poucos conseguem possuí-lo. Resta somente aos “distraídos sorridentes” continuarem a busca da delicadeza, por mais que árdua e solitária que ela seja. Resta-lhes também não temer pelos sorrisos escassos, assim como desanuviar os pensamentos dos porquês em questão.

Nessa busca incessante de correspondência, os amigos sorridentes se perderiam caso depositassem seus sonhos e/ou expectativas nos distraídos merecedores de sorrisos. Surge desta busca (tanto pelos “sorrisos-reflexos”, quanto dos porquês dos “não-sorrisos-reflexos”) um questionamento: seguir o caminho sorrindo; ou desfazer lentamente o sorriso, virar-lhes as costas e pensar se tal busca é realmente válida.

Manter-se no caminho sorrindo desesperadamente poderia ser uma estupidez tamanha e os ganhos viriam da insistência, que claramente não possui créditos. Então, fica imposto o segundo caminho. Pensar, pensar e repensar, tendo como companhia outros não correspondidos. No fundo, a esperança sempre irá fazer companhia e com sua preciosa ajuda as respostas surgirão. Basta ter calma suficiente para deixá-las surgir naturalmente e se possível (mesmo sendo improvável) não interromper os esboços de sorrisos necessários à maquiagem de cada dia.

Ah, algum dia. Em algum dia, alguém lhes sorrirá antes mesmo de esboçarem qualquer gesto delicado com os lábios. É realmente uma pena que, por ora, as reflexões fazem os músculos ficarem enrijecidos. Ah... uma pena!

Obs.: Afasto-me desse mundo que eu criei. Sigo em busca da paz merecida na esperança de algum dia ser merecedora dessas gentilezas...

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

“É, Deus,
parece que vai ser nós dois até o final”


Essa ausência desmedida, punição divina. Deixando-me em comunhão com pior dos sentimentos. Medo. Meio sorriso para esconder o que por dentro está tomado por ele. Chego a ter medo até mesmo de temer. Adiantaria não ter? Temeria da mesma maneira. Reluto enquanto posso. É mais forte. É o mais forte... Ausência, silêncio angustiante.
Pego-me relutando em não pensar e penso... Ah, comédia de final trágico. Ausência de quê, Deus? Não tive nada, não pude ter nada. Esse manipulador aí de cima deve ter tanta raiva de mim... Nada justifica. Justificar o que, Deus? Nem vivências eu tive. Os relógios pararam daquela tarde que dura os restos dos dias até essa maldita noite. Cala-me, por favor. Aquieta-me o espírito. Dê-me um pouco mais, Senhor. Dê-me entendimento... O que silencia a angústia, eu não entendo. Eu não vou entender. Eu tento. Eu tento. Eu tento. Amém.*

* perdoe-me Dona Lispector...


"Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas;
Apenas as mesmas com novas vestimentas!"

(Shakespeare)

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Free and free

Verão - mar - onda - vem - vai - Ma - mar de longe - Mari - Marina!



"See I'm all about them words
Over numbers, unencumbered numbered words
Hundreds of pages, pages, pages forwards
More words then I had ever heard and I feel so alive"

Jason Mzar - You and I both


segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Carta a minha consciência

Diria que hoje chove em Belo Horizonte. Caso assim dissesse, você acreditaria? Bem, digo para não acreditar, pois o sol vem calmo nos visitar algumas vezes ao dia. A única chuva que não cessa nunca é essa sobre a minha cabeça. Exatamente essa dos desenhos animados que ficam soltando raios e trovões acima do meu pobre pescoço. Diria mais, essa chuva que me acompanha seria de sua autoria.

Minha cara Consciência, analiso cada detalhe e vejo que queres desprender-se de mim lentamente. Por que fazes assim? Assumo que em nossa relação passional resolvi tantas vezes não ouvir o que dizia, mas assim o fiz para amenizar seus efeitos. Não! Não diga que sempre fui passional e teimosa. Não adiantaria mesmo, nunca assumiria isso para você (ou para ninguém). Mas diga-me, também partilha de tal sentimentalismo como o meu, não é? Então porque me abandona tão lentamente? Chega de coisas pequenas. Caso seja para me abandonar, que assim o faça de uma vez. Nada mais de dar voltinhas em torno do acaso, deixando-me assim... digamos, confusa. Não vale a pena, desprender-se de mim somente às vezes. Ou fica por aqui ou pula fora. Um ultimato vindo de mim, não é a coisa mais válida que poderia fazer, assumo. Mas é o que deve ser feito, por ora.

Acaso? Por um acaso me enchi de sorrisos, vesti aquele vestido rodado e excedi os limites do aceitável. Lutar contra (ou a favor de você) está sendo doloroso. Penso que, deveria lhe entregar suas coisas, pegar a tesoura e cortar esse fio que ainda me liga a você, minha querida Consciência. Talvez devesse aceitar sem lutar/sem sofrer essas noites pensativas, essa embriagues repentina de tudo o que me faltava. Momentos, nos quais, você simplesmente some, deixando-me com minha coisa estranha (e ao mesmo tempo maravilhosa) que não sei mencionar como é (talvez por não saber, ao certo, o que é; ou por medo de entregar-me ao incerto que tem domínio sobre mim). Deveria aproveitar tais momentos de sua ausência e trancar-te do lado de fora. Seria muito precipitada se o fizesse? Talvez... Essa passividade me rende coisas que você não tem rendido. Bastava-me uma noite de sua companhia para relembrar como é bom ter a cabeça (ou o coração?) no lugar. Assim como me bastam sorrisos, mesmo que utópicos.
Digo que estou absurdamente consciente de tudo, de suas ausências, de sua presença repentina. Mas confesso... Apaixonei-me pela loucura. Agora não há mais espaço para vocês duas aqui dentro. Tal decisão cabe (mesmo não cabendo...) a eu tomar. Sendo assim, está dado o ultimato. Vamos ao litigioso ou conseguimos uma separação amigável?

"O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar?
Por que todos os risos vão desafiar?
Por que todos os sinos irão repicar?
Por que todos os hinos irão consagrar?
E todos os meninos vão desembestar?
E todos os destinos irão se encontrar?"
(Chico Buarque e Milton Nascimento - O que será?)

Foto: Hugh Macleod



Por enquanto, moça...

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Insônia III

Quando tudo é breu, e o corpo cansado permanece esticado em prantos, na cama, tens à mão Crysalidas de Machado de Assis para fazer-te companhia. O que salva o corpo dos devaneios dos olhares e pensamentos perdidos é a certeza de que, após os mil anos desta noite, a manhã virá, mesmo que "nihil sub sole novum".

Stella
(Machado de Assis)

Já raro e mais escasso
A noite arrasta o manto,
E verte o último pranto
Por todo o vasto espaço.

Tíbio clarão já cora
A tela do horizonte,
E já de sobre o monte
Vem debruçar-se a aurora

À muda e torva irmã,
Dormida de cansaço,
Lá vem tomar o espaço
A virgem da manhã.

Uma por uma, vão
As pálidas estrelas,
E vão, e vão com elas
Teus sonhos, coração.

Mas tu, que o devaneio
Inspiras do poeta,
Não vês que a vaga inquieta
Abre-te o úmido seio?

Vai. Radioso e ardente,
Em breve o astro do dia,
Rompendo a névoa fria,
Virá do roxo oriente.

Dos íntimos sonhares
Que a noite protegera,
De tanto que eu vertera.
Em lágrimas a pares.

Do amor silencioso.
Místico, doce, puro,
Dos sonhos do futuro,
Da paz, do etéreo gozo,

De tudo nos desperta
Luz de importuno dia;
Do amor que tanto a enchia
Minha alma está deserta.

A virgem da manhã
Já todo o céu domina . . .
Espero-te, divina,
Espero-te, amanhã.

Céus, por quê?

Ah! O verão.
Chuvas? Algumas mais.
É verão.

Sol? Bobo e tímido vem secar.
É verão.

Vento? Só para balançar os cabelos da menina.
Ah é o verão.





Na vitrola: Frank Sinatra e Tom jobim - Girl From Ipanema

"Ooh... But I watch her so sadly
Aah... Por que tudo é tão triste?
Yes... I would give my heart gladly
But each day, when she walks to the sea
She looks straight ahead, not at me..."



Definitivamente, não é mais primavera...

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Mas eis que chega roda viva...



... na saia rodada da morena

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Combinação perigosa: chuvas e fios de alta-tensão.

"num dia assim
sem passarinhos
sem direção, sei lá
sem um cantinho,
um violão,
um samba,
um cafezinho"
Affonsinho - Estrelas de Estrelas

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Ter insônia é mesmo fogo. Tenho sono, resolvo deitar e lá vem uma inundação de pensamentos me deixar (bem) acordada. Escrever é mesmo uma terapia e eu preciso de ajuda para dormir. Tenho escrito cartas para ver se me canso e o sono aparece, mas como algumas cartas nunca serão lidas, fazer isso não tem ajudado muito... e misteriosamente cai a chuva!

Chuva? Chuva! Chuva... lá de madrugada?

As chuvas de interrogações começaram no momento em que a menina que pensava mil vezes antes de tomar alguma atitude, resolveu se permitir. Envolver-se é uma questão de se permitir. Essa explicação até aqui dada, pode soar como o óbvio, mas não. Para mim, não. Surgindo o primeiro questionamento de se permitir ou não, aparece a fase de euforia do meu transtorno bipolar me fazendo pensar que permitir é sempre bom. “Ah, porque não?”
Ah, por que não, mocinha?! Porque você sabe que as coisas são mais intensas quando analisadas no domínio da sua vida. Permitir-se seria dar uma brecha pequenininha para o caminho sem volta que me rende horas em claras e pensativas de dia e de noite. E a brecha minúscula foi dada. Observar a tempestade pela janela dentro de sua casa é mais seguro do que deixar a janela semi-aberta. Deixar a janela aberta seria mergulhar no desconhecido. Esquecer por um instante a brechinha aberta foi o suficiente para molhar tudo no lado de dentro da casa. O vento ainda teima em abrir ainda mais a janela e sinceramente, não sei se quero fechar. Eu posso perder muito com isso, mas que seja... Eu queria mesmo era falar abertamente com a chuva que ela está molhando tudo aqui dentro. Inútil fazer isso, ela não me responderia mesmo.
Transtorno bipolar de humor. De louco todo mundo tem um pouco, e eu tenho essa desculpa para justificar certas coisas...

Transtorno? Transtorno! Loucura...

Nessa chuva que teima em cair silenciosamente (porque eu me permiti), o que me falta é a sutileza da vida... e a coragem. Neste ano que acabou de ir embora, não houve nem um momento parecido com esse, por isso as noites às claras. Não arrependo de ter esquecido a janela aberta, mas foi um instante só. Um momento só. Só um. Umzinho, inho mesmo. E cá estou sem dormir. Talvez seja medo, com essa vida maltrapilha que tenho levado, não me surpreenderia se fosse isso mesmo. Talvez seja algo mais profundo, algo que por muito tempo não conheci e agora quero de novo. Eu quero molhar, mas não adianta, a chuva não me escuta... E chuva não fala, mocinha... Não vai adiantar nada gritar para ela.

Pelo menos ainda tenho esperança de que algum dia eu vou dormir em paz de tanto cansaço.
Por esses dias em Belô a chuva está querendo abrir um belo sol, nem que ele seja o meu solitário sol. Eu fico mais animadinha quando não está chovendo, dá para sair para ver meu jardim verde, meu sol fraco que só ele, e eu borboleta. E ainda me disseram que as borboletas no meu estômago são extremamente educadas e elegantes ao voar. Tem horas que é melhor deixá-las voar além do permitido, para ver se esse silêncio é quebrado.

Borboletas? Borboletas! Borboletas! Mais borboletas... fiquem quietinhas.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Insônia

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Como mocinha múltipla e inesperada "atiro a rosa dos sonhos nas tuas mãos distraídas" (Mário Quintana), silenciosamente...




Cante, Jobim, o que é imensurável: "E a melancolia que não sai de mim, não sai de mim, não sai".


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sábado, 6 de janeiro de 2007

Inesperadas flores roxas... Ah, seria tudo diferente se possuísse a eternidade.
Olhos fechados abram-se! Resposta que voa pelo vento.


"Benvólio: - Mas que dor as horas retarda de Romeu?
Romeu: - Não ter aquilo que, se o tivesse, as deixaria curtas."

(Shakespeare - Romeu e Julieta)



Imagem por Helena.

P.S.: Meio chato alterar o que já estava escrito, mas essa imagem precisava ser contextualizada. Só tenho agradecimentos a fazer à essa junção sinestésica de imagem-texto-sentimentos que estão me proporcionando. Obrigada!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Em um dia comum, a leveza da existência me surpreende.No e-mail, imagens. No blog, comentário de quem muito sabe do desconhecido. Imagens lindas me deram a sensação de que o acaso é meu guia. Simplesmente fascinante. Não poderia deixar de postar em agradecimento a essas pessoas.


Imagem por: Helena.



Caso existisse um horário para a loucura se apropriar do meu pensamento, este seria quando acordo. Que vida bela. Quanto sentimentalismo. É amor demais, como dito ao desconhecido, 90% de amor, 20% de sonhos e o que resta são as coisas casuais. Os atores mudaram, a cena é a mesma. Sempre será assim...

Essa loucura me dominando, e eu implorando para a razão me auxiliar. De nada vai adiantar gritos, minha realidade é o sonho e o que é impossível seria transpirar tal razão. Caso transpirasse, estaria negando-me ou aceitando todo esse lixo de auto-ajuda contra autodestruição. Como se amar destruísse alguma coisa. As coisas que caem com o amor já estão com suas bases frágeis. Sempre foi assim...

Discordo de Drummond, viver dói. E dói muito, mas ninguém nunca morreu da dor de viver. Ah vida bela. Ah vontade crescente. Balela minha essa de saber o que está por vir, o imprevisto se fez presente e me presenteou com mais um sabor novo. Sabor de? Macarrão e pasta de dente. Loucura. Sua louca...

Por enquanto serão pôr-do-sol, chuva e noites enluaradas, tudo muito egoísta e solitário, mas será assim. Acharam a fórmula de me enlouquecer pelo amor sem querer... e aqui estou, louca. Fora de mim. Perto das minhas flores novinhas em folha e meu coração “passarin” pousando de vagar em mais um canteiro (ou em um fio de alta tensão?).

Ubiratan diz: - De novo, não. Doce demais... Acho que vou vomitar.



Enfim, roubar coisas é uma malandragem mesmo. Roubei esses versos do desconhecido, que mesmo querendo amedrontar, não amedronta e vai me render algumas conversas únicas sem maiores pretensões. Exatamente o que eu precisava para distrair deste Id me guiando.


"Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro."
Bocage