terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Do nada faminto.

O nada quebra-me o silêncio.
























O vazio silenciado grita-me pelo estômago.

domingo, 27 de janeiro de 2008

O corpo faminto deseja pertencer, a existência sem nexo deseja ainda mais. Transforma-se em tinta, em seqüência numérica e em fotos por não pertencer ainda; como se não coubesse no que tem. Como o que há nesse pulsar de hora que não cabe no segundo que lhe é destinado. Teria dores e amores maiores que corpo? Não cabe em si e não se pertence e não se pertencendo transforma-se em contornos, deixando a visão, os talhes em branco no branco para os que, algum dia, conseguirem contornar-la em detalhes. Ela, há duas décadas, nasceu na quarta-feira de cinzas, talvez esteja, ai, a raiz da grande incoerência. Faminta, deseja pertencer... Pertencer-lhe.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Ao lar.


O toque telefônico dela deveria exalar cheiro de café fresco e ser tão macio quanto o travesseiro quente por nós tantas vezes mentalizado. Aqui, meio a nada, meio a mim desconexa e meio a tudo, ele vem soar polifonicamente (e porcamente traduzido, desculpem-me...) “garota, coloque suas canções. Diga-me, qual seu som favorito?”, o que é sempre respondido com um sorriso que preenche o que há dentro e antecede o pensamento * daquilo sem cáspita * que deixa os dedos repousados, estáticos sobre o botão “ler” por dois segundos. Imaginado o que virá, a certeza de ter vindo aquilo que de forma diferente dos outros é correspondente somente a NOSSA gramática, se faz presente. E isso não muda, nem uma vez, sendo sempre tão seguro e completo de si (de nós!) que faz sentir que existe, e sempre existirá, um lar para me libertar. Amém!

sábado, 5 de janeiro de 2008

Considerou a cruel possibilidade de amar. Fechou os olhos. Quis sentir a malignidade do desejo e o tocou. Pegou-lhe com as mãos. Tocara o desejo um pouco mais do que duas ou três vezes e ele a tornara intensa, internamente intensa, em expansão. Tornara-se brasa e nisto habitara o perigo: poderia tornar-se chama alta, seguidamente, pó – o nada, sem foco. Considerou a ferocidade com que poderia doar-se, abdicar-se de muito e dela, trancafiar-se, comer-se e vomitar-se, vez e mais vezes. Sentia fome, doía-lhe a barriga porque tocara o desejo e precisava alimentar-se dele. Sentiu-se empacada, como animal estéreo que busca mais em vão. A dor que sentia não era desta busca, era do desejo de ter aquela fome perpetuamente. E, esta, sim, era vã. Sabia que o acaso não fala, sussurra, balbucia meias palavras e, gemendo, assombra-lhe na mocidade. O descuidado gemido do acaso, por sua vez, também, seria perpétuo. Já não havia mais tempo permissivo à frente ou possibilidade de alimentar-se dele, mas algo muito próximo à sua intensidade interna não lhe sossegava: era sabido; bastava-lhe coragem. Abriu os olhos. Considerou a cruel necessidade de amá-lo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Sand Castle Dreams




Eu tive um sonho. Aqui, sentada olhando para a imensidão do nada, que mesmo que eu saiba que lhe pertenço, tenho-lhe certa repulsa. Mar. Fiz um montinho de areia. Busquei água tentando fazer torres. Enfiei os pés na areia. Sentei-me para vê-lo, em primeiro plano o montinho-castelinho de areia e todas as suas torres e em segundo plano o mar, calmo, de um azul esverdiado de perder-me por inteiro de vistas.






















De súbito, percebi o sonho que tive e enquanto pensava em levantar, com os pés, a torre secreta para ela se esvair em areinhas sendo levadas pelo vento, como no sonho, veio a maré alta e nos levou embora...


... ficando para mim, sem jeito, sem caber, o verde esperançoso, o vermelho da luta, as cores dos lustres e dos doces de festinhas infantis, o branquinho sincero das flores e pedidos à Iemanjá e quem sabe, um dia, noutra vida, ou somente em sonhos o cheirinho do vento que balança o ápice da vida, das minhas muitas vidas.