quarta-feira, 3 de novembro de 2010


Fecha-se o coração como um livro, cheio de imagens, palavras adormecidas, perdidas em prateleiras, acumulando pó e mais pó... De tempos que nem são tão longos, nem tão curtos. Mas, acumulam-se. Com mãos próximas aos lábios oscila-se o sopro e o beijo. Neste instante, já não se sabe qual diferença da coisa perguntada e da menina calada, levando o empoeirado livro bem apertado no peito, na esperança que o pó desfaça o pobre desespero de um dia poder ser... tateado. Palavras adormecidas em escritos que habitaram, algum momento, seus lábios. Fica no ar essa sensação melancólica de um retorno a antiga persona, tal qual Polaroid antiga, lírica e metafórica... Aperta-lhe o peito, por estar tão vivo, dói mais. E, do sopro definitivo (é... não tão de-fi-ni-ti-vo, assim, valendo-se de quem é) fez um pálido beijo vão: o delicado movimento de ar da respiração - regular, metódico e tão cotidiano fez voejar a poeira de todas as palavras não ditas. Voou a imaginação... Talvez morra antes do horizonte. Memória, amor e o resto... de todas as outras coisas, que não tem mais explicação.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A noite e sua nudez
a voz da menina em admiração aberta,
alternância de sátira ou silêncio entristecido
hoje sou testemunha da noite e sua nudez,
hoje assisto ao testemunho da menina e seu amor calado
há entre nós a pouca distância de quem sabe para sempre
e o muito que nos separa
é o mudo do meu presente.
a menina, olhos de menina,
a aceitação e a dor desta menina,
grandes na nudez da noite,
no passageiro da criação,
nos sonhos sonhados, suspeitados,
a voz e o silêncio sobre o que sempre soubemos,
entre a paixão da menina
e o desejo da paixão que me anima,
ainda ausente como estou,
menina que perdi,
além do primeiro das coisa.

Ana Cristina Cezar – Da pasta rosa (06/11/70)