domingo, 1 de maio de 2011

Fico em pé. Olho para caos. Como alguém que olha a imagem no espelho. E o caos é silencioso, doce... sereno. Ele me olha. Seu olhar é como um abraço de pai. Um beijo no joelho esfolado. Um café forte e doce, sentada a beira do fogão de lenha. Um cigarro imaginário. As bromélias e as orquídeas do jardim. O caos me olha com carinho. Estou em pé. Observo meu rosto. Meu rosto é silencioso, doce... sereno. Eu me olho. Meu olhar atinge a parte de trás do espelho. O caos me estende as mãos. Anseio em tocá-las. Estendo as minhas. Toco imagem reflexa de minhas mãos. Vidro frio. Pareço intocável. Ele parece inatingível. Mãos trêmulas. O caos me olha. Me vê serena. Sorriso de canto de boca. O que mais vê? Eu vejo almas. Vejo detalhes. Vejo que o caos nunca sairá da imagem que observo atentamente de pé. O caos me analisa. Me esmiuça. Eu estou em pé. Mãos estendidas e vazias.... Na impossibilidade de vivê-lo. Finjo. Tocá-lo. Senti-lo. Buscá-lo pra cá. Pra perto. Será. As mãos distantes e as minhas vazias. Estou em pé. Observo-me. Vejo a arte que criei. Arte leve. Sei. Das muitas coisas que sei. A única coisa que faço com precisão. Querer o caos.