segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Carta a minha consciência

Diria que hoje chove em Belo Horizonte. Caso assim dissesse, você acreditaria? Bem, digo para não acreditar, pois o sol vem calmo nos visitar algumas vezes ao dia. A única chuva que não cessa nunca é essa sobre a minha cabeça. Exatamente essa dos desenhos animados que ficam soltando raios e trovões acima do meu pobre pescoço. Diria mais, essa chuva que me acompanha seria de sua autoria.

Minha cara Consciência, analiso cada detalhe e vejo que queres desprender-se de mim lentamente. Por que fazes assim? Assumo que em nossa relação passional resolvi tantas vezes não ouvir o que dizia, mas assim o fiz para amenizar seus efeitos. Não! Não diga que sempre fui passional e teimosa. Não adiantaria mesmo, nunca assumiria isso para você (ou para ninguém). Mas diga-me, também partilha de tal sentimentalismo como o meu, não é? Então porque me abandona tão lentamente? Chega de coisas pequenas. Caso seja para me abandonar, que assim o faça de uma vez. Nada mais de dar voltinhas em torno do acaso, deixando-me assim... digamos, confusa. Não vale a pena, desprender-se de mim somente às vezes. Ou fica por aqui ou pula fora. Um ultimato vindo de mim, não é a coisa mais válida que poderia fazer, assumo. Mas é o que deve ser feito, por ora.

Acaso? Por um acaso me enchi de sorrisos, vesti aquele vestido rodado e excedi os limites do aceitável. Lutar contra (ou a favor de você) está sendo doloroso. Penso que, deveria lhe entregar suas coisas, pegar a tesoura e cortar esse fio que ainda me liga a você, minha querida Consciência. Talvez devesse aceitar sem lutar/sem sofrer essas noites pensativas, essa embriagues repentina de tudo o que me faltava. Momentos, nos quais, você simplesmente some, deixando-me com minha coisa estranha (e ao mesmo tempo maravilhosa) que não sei mencionar como é (talvez por não saber, ao certo, o que é; ou por medo de entregar-me ao incerto que tem domínio sobre mim). Deveria aproveitar tais momentos de sua ausência e trancar-te do lado de fora. Seria muito precipitada se o fizesse? Talvez... Essa passividade me rende coisas que você não tem rendido. Bastava-me uma noite de sua companhia para relembrar como é bom ter a cabeça (ou o coração?) no lugar. Assim como me bastam sorrisos, mesmo que utópicos.
Digo que estou absurdamente consciente de tudo, de suas ausências, de sua presença repentina. Mas confesso... Apaixonei-me pela loucura. Agora não há mais espaço para vocês duas aqui dentro. Tal decisão cabe (mesmo não cabendo...) a eu tomar. Sendo assim, está dado o ultimato. Vamos ao litigioso ou conseguimos uma separação amigável?

"O que será, que será?
Que todos os avisos não vão evitar?
Por que todos os risos vão desafiar?
Por que todos os sinos irão repicar?
Por que todos os hinos irão consagrar?
E todos os meninos vão desembestar?
E todos os destinos irão se encontrar?"
(Chico Buarque e Milton Nascimento - O que será?)

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