sexta-feira, 16 de novembro de 2007

"Para que te serve essa cruel boca de fome?
Para te morder e para soprar a fim
de que eu não te doa demais, meu amor,
já que tenho que te doer,
eu sou o lobo inevitável pois a vida me foi dada. (...)"


Venho comemorando meses de minha morte. Dia após dia, a mesma comemoração: um caminho escolhido, percorrido e findo sempre na mesma cerca. Nela, deixo pedaços de mim em comemoração. Aproveito os mínimos espaços dentre as farpas - a valsa da comemoração, enquanto sinto, uma a uma, rasgar o vestido que me deram; cortar os milímetros de pele nova que também me deram; ver o branco das flores no cabelo mudarem para vermelho. Esta é a melhor hora, quando espremia-me para caber na tortuosa recompensa do caminho. Por vezes, quis padecer ali. Por vezes, quis apressar-me e sair nua de roupa, de pele, de flores, de mim. E, em outras tantas, quis apenas ficar estática, sentindo cada farpa; ficar ali com a pele rasgada, o vestido molhado e com as flores dependuradas... Venho comemorando meses de meu (re)começo. Dia após dia, a mesma comemoração: sangrar para saber que eu estou viva.

2 comentários:

Fabrissa Valverde disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fabrissa Valverde disse...

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Um dia vai!
Até lá... Eu, coagulante!

Bjs, florzinha!