domingo, 10 de fevereiro de 2008

Eu nasci em 04 de fevereiro de 1987, (provavelmente numa) quarta-feira de cinzas, exatamente ao meio dia em Belo Horizonte ou em janeiro de 2006, durante o meu recesso. Eu precisava de férias das agitações internas e pensei que havia encontrado, finalmente, meu sossego ao acaso. Nestes tempos longínquos, eu fazia escolha. A vida acontecia no singular com toda a singularidade que lhe era permitida. E foi assim que no jogo com o acaso, eu perdi tudo. Eu, que nunca soube como dar as cartas, fui derrotada por uma única carta, começo do meu fim... Ciclos que se renovavam nos escritos, consumia-me o pensamento, mas fez reforçar um outro encontro - este às claras, mesmo tão ‘stranger’- onde era permitido falar das minhas dores; uma a uma escutadas e cuidadas. Nessa época, muito próximo do dia que eu morri, consegui desprender o afeto, o intelecto e o companheirismo da sexualidade, eles viriam como amizade. Não seria uma ligação direta, era afinidade, amizade, pureza; somente na véspera de minha morte, pude perceber isso. Então, também em uma quarta-feira de cinzas, eu finalmente morri. Deitei-me de encontro ao nada. Subi mais alto e vencendo a indecisão suicida, joguei-me. Se não encontrasse a luz, vagaria nas linhas brancas do nada, mas com a certeza que seria velada por mãos de cuidado.

Pobre de mim! Quando planava, fui poupada do tocar no chão. Havia uma mãozinha, que ao invés de se fechar em oração, abriu-se e, espalmando-se, esperava-me, amenizando minha queda... Mais uma vez eu me senti protegida pela mágica do sentir puro. Fiquei dentro dela, meu casulo pelo primeiro instante. Quando forte, as mãos se abriram e eu pude, finalmente, voar. Borboleteie em ares letrados e indecifráveis, mas que me faziam sonhar e sonhar e sonhar, relendo os clássicos, os mitos e os paradigmas... Como os clássicos, os mitos e os paradigmas esses ares permanecem na atemporalidade da história. Serão sempre os ares dos ares que não meus e fim – até a paradoxal relação amor-ódio passar. Em um desses momentos, as mãos já conhecidas me esperavam... Antes mesmo da escolha de pular, elas estavam lá. Não no sopé do abismo, mas no topo, junto a mim, em uma ligação horizontal. E elas me pediam delicadamente para me deitar em sua palma... Era hora do cuidado – meu casulo pelo segundo instante eterno. Morta, vagando nas linhas brancas, preparando-me para mais uma mutação.

Pois bem, nasci duas vezes, morri uma única, vaguei sem fim pelo clássico inferno divino e, mutante, batizei-me, Beatriz. Como Beatriz, forcei as mãos, precisava do palco: atuar. As mãozinhas receosas abriram-se para eu sair desmorfa – meio bicho arredio, meio doçura. Teimosia, um das forças motrizes, fazia-me seguir. Oras! Morrer já não era mais temido, eu já estava morta. O jardim, onde tentava achar morada, havia ressecado quando foi necessário o primeiro instante eterno. Não havia nada a temer, nem a perder e se o jogo havia intrigantes adversários, porque não jogar? Colocava na mesa apenas as cartas sem muita validade, deixava uma na manga e blefava, encarando-os com tanta determinação que ninguém duvidaria da minha habilidade inventada – a minha atuação aprendeu mais uma arte, a arte de sofismar. Se doía-me (e doía-me...) saber que, por vezes, eu queria, sim, consumir todos os adversários, inventava que não. Mas, o que eu mais queria era que rebelassem-se e saíssem desse curta metragem independente no pior estilo “cassino sul americano” e movimentassem-se em cores reais, toques reais, vontades reais. Descobri, por mim, que mesmo o melhor sofisma, não passa de uma “realidade inventada”. Ah! Eu, vezes e mais vezes, citei Lispector e a nossa afeição por elas; agora, eu não mais os queria. À noite, no breu, repudiava inventar realidade. A realidade desejada era Nino de A.Poulain e os prazeres da pequenas coisas, palpitações e, se assim fosse, não me importaria idade, clássicos ou egos verdes incandescente que me mataram. Nos jogos, perdi pouco do concreto, mas muito de mim; perdia-me aos poucos, afundando-me em “be atriz”. Em uma única noite, no breu, com vistas cansadas vi lá longe um poema acender sua luz:

"Apaga a luz
Antes de amanhecer
Um vagalume"
(Alice Ruiz)

Um vagalume(zinho...). Que eu já havia visto, mas nunca percebido. Meus olhos cobriam-no de primeiras impressões. Mas em meio às fortes luzes natalinas e todo o clichê de final de ano, ele apareceu pequeno, indefeso, poético em sua sinceridade, em suas cenas de territorialização gratuitas e com sua luz fraca, mas autêntica. Um poema curtinho, que seria minha morada, por ora. Do poema curtinho, fez-se, também, “Brinquedo Sério” (Alice Ruiz).

Meio borboleta, meio bicho. Ora Marina, ora Beatriz. Clichês e autenticidades. “Palavras e silêncios”. Metade mim, metade outros. Carnaval e quarta-feira de cinzas. Meus paradoxos nunca terminariam... Na indecisão, as horas consumiam as poucas horas de luz e ensinavam-lhe os truques do jogo, que eu já não suportava. Eu queria mesmo sedas para descansar, mas minha não habilidade em conseguir arrancar os prefixos da indecisão fez com que o dia despontasse (o que eu sempre quis, mas não agora). Querendo que a noite continuasse a destacar a luz do bicho – eu ainda quero tanto, mas tanto que até me envergonho! – pedi abrigo às mãozinhas. Ontem, enquanto revia as gavetas, limpava a casa e molhava minhas flores-amores de plástico, sentindo-me ridiculamente envolvida por mais uma viagem sentimentalóide, pedi para que as mãozinhas me fechassem em cuidado... e lá estavam elas, fraternalmente. Mesmo sabendo que a antiga Marina morreu, fingiu renascer, mas não conseguiu. Elas lá estavam, fazendo-me nova: Marina sem codinomes, recriando heranças, minhas flores, meus jardins e desenhado a vida, e o sentir com pureza. Mãos em liberdade, mesmo quando em casulo. Hoje, o meu terceiro instante eterno. Obrigada, sempre! *=)




PS: Tô estragada... Reze para não parecer muito “nhé” essa fábula(zinha) água e açúcar ou para não ficar 1/2! Só posso com suas orações. Ah! Você sabe... * “Relicário” * (Nando Reis).

2 comentários:

Fabrissa Valverde disse...

Não achei nada grandioso pra dizer, as formas de agradecimento são tão limitadas e eu acho que isso é um absurdo. Nada simétrico uma emoção grande e um “obrigada” pititico. Sô Deus, Monk falou que é pro senhor dar seu jeito. Ora bolas! Essa fioretta desperta a necessidade de mais palavras...

Compulsão de ter mais 18 mãos e mais algumas de reserva... rs
Tenho só duas, mas... todas duas, suas. *=)


PS.: Nem ficou 1/2! Bobona!

Fabrissa Valverde disse...

Ow... ow...

Obrigada! Pititico mesmo!

* ahow *

Beijos.