quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

As coisas adormecidas


Acorde beija-flor.
Siga. Vá até ali, siga mais um tiquinho.
Pare. Fique assim.
Afaste-se. Vá até o jardim do vizinho.
E adormeça, beija-flor.
Adormeça, mas acorde melhor
Em um dia lindo e comum.
Sereno, levanta-te passarinho e
Vai...

Um comentário:

Anônimo disse...

Filhuta, aí:
Traduzir-se
Ferreira Gullar

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?