sábado, 23 de dezembro de 2006

Cartas de Tarô

Dois anos de misticismo adormecido para dois minutos de insistência e duas doses alcoólicas jogar tudo a perder. Não tenho medo das cartas propriamente ditas, mas tenho medo de me expor, mostrar o que acontece nesse “quarto de mistério”. Crer no que está exposto é a forma consistente da realidade ali contida. E eu acredito... tanto que deixei quieto esse “dom” por alguns anos, por acreditar demais no que via.
A metodologia é simples: três cartas, disposta da esquerda para direita representando respectivamente o passado, o presente e o futuro. Nós duas sabíamos exatamente que não era brincadeira, e mesmo assim insistimos em relembrar o que por muito tempo eu queria, definitivamente, esquecer. Os ensinamentos surgiam tão claros que me assustavam. Como poderia lembrar daquelas interpretações todas depois de tanto tempo? Segundo ela, era o “dom” que nos foi dado. Eu não quero acreditar que é um “dom”. Após a faculdade, as coisas passam a se tornar cada vez menos místicas e cada vez mais científicas. E tarô não é científico em hipótese alguma. Nem ao menos sabemos se o que nos foi ensinado é a maneira mais correta de interpretação, mas se jogo é jogo, vamos jogar.

Toalha amarelada pelo tempo aberta sobre mesa. Ela de frente para mim e o baralho nos separando. Queria não acreditar que aquela cena estava se repetindo, mas lá estava tomada pela insistência e por um certo ceticismo advindo das experiências acadêmicas.
Em três segundos já tinha escolhido as três cartas e apenas um segundo para virar a primeira carta: O imperador.



Direito, rigor, certeza, firmeza, realização.
Energia perseverante,
vontade inquebrantável, execução do que está resolvido.
Autodestruição, grande risco de ser enganado.
Autoritarismo, tirania,
absolutismo.









O medo aumenta, assim como a certeza de que mesmo relutando, com aquelas cartas estaria me expondo. E me expus. O imperador! Sabia que sairia esta carta. O ano foi exatamente assim. Minhas vontades assumiram proporções além do permitido. Fiz, desfiz, mandei, desmandei, fiz muito choro e muito riso falso... e de certa forma, pago por isso.

Tomando outro gole, respirando fundo e frente ao silêncio dela (ah... ela mencionou minhas antigas interpretações e resolveu que eu mesma tentasse entender o que estaria por vir sem sua influência), abri a carta do presente: A justiça.



Capacidade de julgamento.
Conciliação entre o ideal e o possível.
Objetividade.
Clareza de juízo.
Autoridade para apreciar cada coisa no momento oportuno.









Olhos se arregalam. Não precisaria do tarô para saber como está sendo o atual momento, ele somente reafirmou o que eu já sabia. Momento de julgamento, de esperas, de clarezas assustadoras, assim com esse maldito jogo que não terminava e cada vez mais me expunha.


Para finaliza de uma vez por toda, virei a terceira carta. Se a Deus pertence o futuro, e o vendaval se aproxima, as cartas de maneira alguma falariam algo de concreto. Bem, prefiro acreditar nisso. Terceira carta exposta: A torre.








Rompimento das formas aprisionadoras, liberação para um novo início.
Destruição da rigidez.
Abertura.
Conhecimento.
Desmoronamento e queda.
Confusão completa.
Excessos.






Ok, ótima maneira de terminar uma leitura. A torre... realmente não esperava. O vago se apropriando do futuro para resultar em mais destruições. Como se já não bastasse as deste ano. Uma parte de mim acredita em obras do acaso, outra parte acredita no que vê. E o que vê? Seria mais fácil falar o que eu não gostaria de ter visto. E essa torre, é uma dessas coisas. E eu prefiro acreditar, ou repetir para que eu acredite, que o futuro é inesperado, assim como esta bendita carta. Deixa para lá, e deixa a certeza de que não deveria ter remexido nesse tipo de lembranças.

Jogo é jogo, e eu pago para ver.

Um comentário:

Lucas disse...

da primeira carta... a certeza foi a palavras que mais me chamou a atenção... certeza...palavra complicada essa...
na segunda a capacidade de Conciliação entre o ideal e o possível... nem tento....
na terceira...
a que eu mais gostei.... confusão completa... meu sonho.